Expressões nojentas: predicados e efeitos

Existem pessoas que têm uma capacidade indescritível de dar nojo sem mesmo que nós tenhamos uma vez visto seu rosto. Dão nojo pelo que lemos delas.

Eu poderia falar aqui de Paulo Coelho ou Gilberto Freire - abro agora uma pausa dramática para gritar: Aaaaarrgh -, que eu nunca li porque não gosto de ter nojo, mas, não, não vou.

Também não vou falar dos blogueiros - há muitos por aí na blogosfera (palavra mais feia jamais inventada) que fariam o mais resistente dos estômagos virar do avesso e gritar, como eu, "Aaaaarrgh"; fazer o coração parar, derreter as calotas polares, inclusive. Creio mesmo que as calotas de gelo derretem de nojo quando lêem blogs que falam, por exemplo, de "efeito estufa e aquecimento global".

Não é certo, ouçam com atenção, não é certo causar nojo às pessoas. Nojo, repulsa ou náusea são todos muito desagradáveis. Por isso digo, como a entonação de quem recita Shakespeare: nunca use esta roupa. Nem para a mais inocente das brincadeiras.

Ok, ok, eu estava falando de nojo de textos, né? Muito bem: jamais escrevam "a nível de". De todas as expressões asquerosas, esta é a mais, a number one, a bambambã. "A nível de" é a maior responsável pela destruição da camada de ozônio e pelas abduções extraterrestres. É culpada pelo assassinato de Getúlio e o aliciamento da Christiane F., 13 anos, drogada e prostituída.

As expressões asquerosas são responsáveis pelo medo da violência e pela imprudência no trânsito. Elas insistem que beber e dirigir é normal. Outro dia um gerundismo foi preso tentando levar crianças para o "mundo do crime", outra expressão que machuca os olhos de quem a lê - os meus, agora, estão roxeando lenta e dolorosamente. Também vi, uma vez - só uma, e foi o bastante - um "olhei bem no fundo dos seus olhos", se travestindo e convencendo um amigo a fazer o mesmo. Vi um "de menor" insistindo com um padre pra que ele se tornasse pedófilo. Suponho que Michael Jackson o conheça.

Mas, agora, reconheço que me precipitei quando falei de "a nível de". A pior de todas é "moderação". A moderação é capaz de criar, além de padres pedófilos, golfinhos assassinos - o maior mal que assola a humanidade ("mal que assola" é uma expressão muito nojenta, também); a moderação sempre chega sorrateira, como uma naja, embora mais venenosa, vestida em pele de cordeiro - oh, os cordeiros!, quando menos esperam estão caídos ao chão, abatidos.

Oh, sim, sim. Cometi mais um erro, é verdade. Quem se veste de cordeiro são os lobos, não a moderação. A moderação se veste de Eva. Ela é muito hábil com fantasias, ninguém deve duvidar, e sempre defende o lado errado de uma forma fugidia, quase imperceptível. Ela deve estar, por esses dias, em Israel, matando alguns sionistas, aposto, dizendo ser contra a guerra. Como eu dizia, a moderação se veste de Eva, tão real quanto a primeira das mulheres, e oferece sua maçã para os homens - e as lésbicas. Quase todos aceitam, pois Eva era muito bonita - caso contrário Adão não teria aberto mão do Éden pra ficar com ela, ficaria com alguma macaquinha mais jeitosa. Então, depois de comer a maçã da moderação, todos caem desmaiados, acometidos de sono profundo, pois a maçã dela contém o mesmo veneno que tentou matar a Branca de Neve.

Para capturar as mulheres, a moderação se veste de fuso de costura e, aos quinze anos de cada uma delas, surge para que furem seus dedos e morram.

No entanto, para salvar a vida de todos, surge a "bisnaga", palavra das mais engraçadas e fiéis, que beija a boca daqueles que comeram a maçã e reduzem o feitiço do fuso a meros cem anos de sono. E ainda inventa um príncipe no fim desse período, que matará o dragão em que a moderação se terá travestido e despertará as donzelas com um doce beijo. Tudo bem que cem anos de sono não manterão a beleza que elas tinham, mas, certamente, elas ficarão felizes quando ouvirem que viverão felizes para sempre.