Não afirmo que filmes parados são necessariamente ruins. São bastante bons, quando têm uma história. O tédio nem me acomete - oh, Moça com Brinco de Pérola, oh!, oh! Mas sei lá, o povo tem essa mania de aproximar opostos que me irrita um pouco. "É tão bonita que é feia", "é tão ruim que chega a ser bom". Conclusão: sopa de quiabo pra eles. Salada de brócolis*.
A gente nunca vê ninguém dizer isso com coisas objetivas, do tipo "tá tão escuro que até ofusca meus olhos" ou "o colchão é tão macio que até fura minha coluna". Aí começam a querer aplicar exatamente o contrário nos sentimentos, a pretexto de ser "contraditório" ou "um ser paradoxal". Ou ame ou odeie ou faça ambos ao mesmo tempo. Eles juram que conseguem, eu só acho que estão loucos.
P.s.: sobre gostar de algo porque atingiu seu fim, segue um trecho do verbete "Belo, beleza" do Dicionário Filosófico de Voltaire:
Belo, beleza
Perguntai a um sapo que é a beleza, o supremo belo, o to kalon. Responder-vos-á ser a sapa com os dois olhos exagerados e redondos encaixados na cabeça minúscula, a boca larga e chata, o ventre amarelo, o dorso pardo. Interrogai um negro da Guiné O belo para ele é - uma pele negra e oleosa, olhos cravados, nariz esborrachado. Indagai ao diabo. Dir-vos-á que o belo é um par de cornos, quatro garras e cauda. Inquiri os filósofos. Responder-vos-ão com aranzéis. Falta-lhes algo de conforme ao arquétipo do
belo em essência, o to kalon.
Assistia eu certa vez à representação de uma tragédia em companhia de um filósofo.
- Como é belo! - dizia ele.
- Que viu o sr. de belo?
- O autor atingiu seu fim.
No dia seguinte ele tomou um purgante que lhe fez efeito.
- O purgante atingiu seu fim - disse-lhe eu. - Eis um belo purgante.
* Talvez eles realmente achem que dobradinha é bom de tão ruim. Tenho medo de acreditar.
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