20 janeiro, 2009

Lula e a imprensa

Eu demorei pra escrever porque achava que alguém teria a excelente idéia de escrever por mim, mas peraí: o presidente fala a primeira coisa sensata desde que assumiu como deputado pela primeira vez, talvez de toda a vida, e o que me aparece? Só idiotas achando "um absurdo" que o "apedeuta" do "preZidente Mulla" não leia nada da nossa imprensa (SAP: "um absurdo que ele não se importe com todas as críticas retardadas que faço a ele todos os dias, 48 vezes por dia, e compilo num artigo sem graça).

Bom, eu fiquei extremamente feliz com isso, porque 1) ele não vai ler nada que eu publicar e 2) pelo menos ele tem noção de como a mistura de política com imprensa é nociva à população (ou talvez ele seja só preguiçoso, mas eu tenho essa noção, e a idéia de Lula lendo um texto meu no banheiro dá azia em mim, vou te contar).

Porque, francamente, querer ser lido pelo Lula é mais mau gosto do que suportaria meu jovem cérebro, acostumado a Johnny Cash, Catherine Zeta-Jones e Nutella. E porque, também francamente, pois sou sincero, presidente que lê os jornais tende com mais intensidade a censurá-los quando - por acidente - eles falam alguma verdade (afinal, ele é culto, bem-informado e, pior, tem poder).

Um presidente que não acompanha a imprensa é, necessariamente, melhor que um que lê a Folha, o Estadão e O Globo todos os dias, além de todas as matérias da Veja, IstoÉ, Carta Capital e Época. Eu, por exemplo, não leio a Folha, o Estadão ou O Globo, nem qualquer uma das revistas que o Lula também não lê, e me acho muito mais útil que o Reinaldo Azevedo, se é que o Reinaldo Azevedo falou alguma coisa sobre isso (apenas suponho, não pensem que eu abri o blog dele, céus!). E eu estou comendo Nutella, reparem (QED minha importância superior).

Além disso, mesmo se Lula não fosse um completo retardado, e se conhecer algo não fosse o requisito essencial para julgá-lo (e sabemos que o presidente não deve julgar a imprensa, pombas), ainda assim, eu prefiro ter um presidente muito preocupado com, digamos, A Peste, que se espalhou tão terrivelmente que destruiu Londres em 1665, conta Defoe (ou Pepys, que ele pode ter preferências diferentes das minhas), que com a dengue, que matou meia dúzia de bebês sem higiene ano passado. Com a morte de Luís XVI - "Coitado!" - que com um novo seqüestro das FARCs.

E não é somente uma preferência estética, que não sou assim tão superficial. É uma preferência política. Quanto mais alienados os políticos, mas feliz o país em que esses políticos governam. É só ver os Estados Unidos. Toda vez que alguém muito preocupado com a atualidade, o terrorismo, a distribuição de renda assume, chove chumbo, surge crise, gente se mata, o preço do Nutella sobe etc.

Sempre que um presidente lê uma notícia sobre, digamos, saúde pública, além de surgir uma nova epidemia (graças em grande parte às medidas emergenciais, como, it's a long shot I take, proibir privadas com fundo quadrado), o dinheiro pra contê-la (e subsidiar essas privadas, fabricadas pelo sobrinho do senador que propôs a medida) vai sair da educação e PIMBA!, os problemas se multiplicam. É batata. Só não vê quem não quer. E quem está com os olhos vidrados nas páginas dos jornais.

P.s.: quem não fica feliz em saber que, pelo menos, os dedos do presidente não estão sujos de tinta? Que talvez - talvez! - ele tenha uma mão asseada, com a qual ele vai apertar sua mão na próxima campanha (porque ele vai). Ou você prefere apertar a mão de um presidente intelectual, todo asseadinho, mas que vai manchar as costas da sua camisa quando te cumprimentar com um tapinha gentil?

P.p.s.: E o presidente intelectual também tem resquícios de tinta de jornal debaixo das unhas, que vão impedir você de comer quando ele sentar à sua frente na mesa e pegar a coxa de galinha com as duas mãos e cravar-lhe os dentes, faminto (não que ele vá, Deus te proteja, mas eu gosto de usar essas situações de rotina pra provar que eu estou certo). Além de que, como diz minha mãe, minha onisciente mãe, "é pelas mãos e pelos pés que se julga um homem".

Quê mais? Tenho que explicar que um presidente intelectual, geralmente, não é um verdadeiro intelectual. É apenas reconhecido como intelectual, como qualquer pessoa que tenha lido mais que três livros e acompanhe todos os jornais é sempre. Porque intelectual de verdade não gosta de jornais. O bom gosto não permitiria que ele lesse essas matérias vazias dos nossos jornalistas, e, principalmente, que se envolvesse com política e se candidatasse.

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