13 dezembro, 2008

Para que se respeite a arrogância é preciso que ela tenha em si algo de razoável, algo de válido. Não adianta supor-se maior que alguém e, a partir dessa suposição, desprezar quem quer que seja. Existe uma diferença entre o arrogante e o presunçoso, e ela está nas razões de seu uso. O presunçoso - e defino aqui livremente, como quem comprou um dicionário em branco e começou a preencher os verbetes com definições particulares, um Samuel Johnson mais ousado - tem tão inflado o ego que ele expande as paredes internas do fígado até que o órgão esteja tão grande que comprima o coração à implosão.

O arrogante carrega em si um charme, que é o controle de sua própria arrogância apenas até a implosão dos órgãos menos necessários, como o estômago e os intestinos, mantendo o coração intacto*. O arrogante respeita uma bela mulher pelo fato de ela ser bela, e se apieda de uma mulher feia justamente por isso. Não deixa de se achar superior, e de dizer isso - mas é uma superioridade que não incomoda, porque a presença do coração é, de fato, superior à presença do fígado.

*Às vezes, graças à implosão do pulmão esquerdo, o coração até se expande um pouco, gerando o que chamo originalmente de homens-bons: pessoas que não ligam para as coisas alheias, até que elas precisem de atenção, fruto desse coração super-desenvolvido.

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