19 dezembro, 2006

Ao polo Norte

Querido Papai Noel,

Meu presente este ano não vai exigir que o senhor gaste mais que o valor de uma faca e uma máquina do tempo (que, certamente, custa menos que um PlayStation 3).

Quero que o senhor volte ao século XIX e mate Machado de Assis no dia de seu nascimento. O fato de ele ter existido é um estorvo para mim, porque me impede de generalizar quando falo mal dos romancistas brasileiros. Penso em dizer “toda a literatura brasileira é lixo”, mas vem logo Machado, neguinho, epilético, depois de uma crise em que bateu três vezes a cabeça no chão, ainda com o nariz sangrando um pouco e uma babinha no quanto da boca, brigar comigo, dizer que não o inclua nesse bolo, que farinha boa não dá certo com ovos podres.
Gostaria de pedir que o senhor aproveitasse e matasse ao nascerem, também, os outros três ou quatro representantes de nossa literatura a que ainda dedico algum amor, como Millôr Fernandes, Lima Barreto, Luís Fernando Veríssimo (o que ainda puniria o estúpido do seu pai, um presente duplo!), Mario Quintana, Monteiro Lobato, Gregório de Matos e mais alguns outros que devo ter esquecido.

O motivo é, o senhor há de reconhecer, o mais justo possível. Como poderei viver fazendo ressalvas por aí? Como poderei respirar tendo que dizer que apenas a gigantesca maioria dos autores brasileiros é horrível, e não a totalidade? E ainda dizendo: “salvam-se tais e tais”? Faça-me o favor, bom velhinho!

Mas note, note, quantas ressalvas já fiz neste texto! Melhor parar por aqui, senão daqui a pouco peço pra matar José de Alencar, o que não seria exatamente bom para a minha crítica à literatura.

Com carinho,

Gustavo

P.s.: fui um bom menino durante todo o ano e ainda lavei bem atrás das orelhas a cada banho e nunca esqueci a pasta de dente destampada. Acho que mereço esse presentinho.

P.p.s.: dê um presente pra Noodle por me lembrar de dizer que lavei as orelhas.

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