28 setembro, 2007

O questionário do Ratinho
























Insatisfeito com as respostas dadas pelo apresentador Carlos Massa ao questionário que leva seu nome, resolvi corrigir as respostas, dando a resposta certa logo abaixo. Começando em 3, 2, 1.

Your most marked characteristic?
Errado: A craving to be loved, or, to be more precise, to be caressed and spoiled rather than to be admired.
Certo: O bigode.

As outras respostas serão dadas conforme a preguiça permita, provavelmente nunca. Sintam-se livres pra responder também.

27 setembro, 2007

Um a Zero

E o São Paulo teve a atuação mais medíocre dos últimos tempos no Morumbi. Felizmente, meio São Paulo basta. Aliás, dizer meio São Paulo é aumentar demais os números. Considerando-se que o futebol é o ataque e que a defesa é só algo que acontece e, portanto, não conta, o São Paulo tinha dois homens em campo. E um deles durante apenas o segundo tempo. Também nunca vi tantos passes errados, tantos lançamentos inúteis, tantas falhas de ataque. E tanta frescura de jogador. Quando Aloísio queria sair, todo mundo começou a se jogar no chão e ficar zonzo - "também quero descansar, professor Murici", "tô com medo, fessor". Ainda bem que o jogo era contra o Boca em atuação bem mediana, também. Não ia ser justo que o Boca jogasse bem contra um São Paulo em que o menos gay era justamente o Richarlyson.

(Ok, digo quem são os dois-em-campo, pra quem não viu: Dagoberto e Aloísio. Agora não me enche, volta a dormir que é muito cedo).

26 setembro, 2007

Em que me sinto, pretensiosamente, Diogo Mainardi

Ah, as conseqüências! Se não fosse por ligar tanto pra elas, muita coisa estaria melhor no Brasil. Em Recife, por exemplo, um gari achou uma maleta com dinheiro - uns mil reais aí. Quarenta e cinco, acho - na prefeitura, ou pelo menos foi o que entendi do professor falando, e disse que entregou pro segurança da prefeitura, que deu um jeito de sumir com a maleta. A pergunta a se fazer é...

Errado, meu desatento leitor. Não interessa quem está com a maleta, quem fez o quê com ela. Não importa nada depois do encontro do gari com a maleta. A pergunta apropriada é "O que uma maleta com dinheiro fazia na prefeitura?" ou "Quem levou a maleta pra lá?"

Lembremos que o ambiente de que falamos é uma prefeitura, por onde circulam, naturalmente, políticos. O que o honrado segurança fez quando resolveu gastar por si o dinheiro da maleta - supondo que foi isso o que ele fez - foi evitar a conclusão de um poderoso esquema de propina. Mas o escândalo não se instaurou. Ninguém liga pro passado, as pessoas não gostam de investigar causas, ocupadas que estão com as decisões a se tomar - prende o guarda; bate; tortura; bandido; dinheiro público, devolve!; eu quero o meu.

Não considero crime o que o segurança fez porque eu não ia aproveitar nada mesmo do dinheiro, que seria gasto com prostitutas de luxo ou viagens à Malásia, para organizar esquemas internacionais de corrupção. Se não posso usar o dinheiro público, prefiro que um segurança use. Me sinto mais tranqüilo e seguro de perceber que, em vez de estar dando ainda mais dinheiro pra quem já me rouba sempre, tenho um bandido menor, um ladrão de galinhas, interessado nos meus bolsos - antes um trombadinha que a máfia.

Mas claro, existe a possibilidade de que uma maleta cheia de dinheiro escondida num banheiro da prefeitura fosse completamente lícita, esquecida lá por algum distraído que não liga o bastante pra dinheiro suficiente pra comprar um pequeno apartamento ou dar de entrada numa casa em bairro nobre. E digo isso, claro, rindo de tão ridícula que é essa hipótese, como se dinheiro honesto de alguma espécie pudesse entrar num órgão público sem sair fedendo ou se sujar logo na entrada.

22 setembro, 2007

Sem posts por um tempo

Algumas pessoas se envergonham do que escrevem quando lêem livros muito bons ou blogs muito bons e acabam não escrevendo por um bom tempo. Comigo é diferente: nunca mais vou conseguir escrever porque vi muitos vídeos da Marilyn no youtube e muitas fotos no google. Isso corta completamente a capacidade produtiva, porque em qualquer descrição você quer incluir cada detalhe da Marilyn. As pernas da minha cadeira vestem 42, o milho que como é louro, o arco na entrada da cidade lembra as sobrancelhas e até as manchas de diesel perto de um bueiro no chão têm que ser charmosas como aquela pinta perto da boca - isso porque sou muito decente pra falar de tudo. Fica difícil fazer qualquer coisa quando é isto o que temos em mente.

18 setembro, 2007

Um pouco de arte e literatura (bem pouco, que não entendo muito dessas coisas)

Os modernistas querem a arte pura, assim, como alguém que bebesse arte e tivesse medo de se contaminar com giárdia.
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Gosto da idéia da literatura tradicional, mestiça, essa mulata de quadris largos, que mistura papel e palavras e sentidos, dá uma rebolada e faz todo homem de bem viajar um pouco. A literatura moderna é só papel. Ou só palavras. Seja lá onde estiver a essência da literatura, para o modernista não está no sentido.

14 setembro, 2007

A congressman of my own

Sempre sonhei em comprar um deputado. Ele ficaria sentadinho sobre o meu monitor, as perninhas manchando o vidro, um terno barato com ombreiras e uma webcam no lugar do nariz. Na base, sob seus pés, a advertência: "Cuidado! Se a câmera for mantida ligada, pode reparar em todos os seus podres e usá-los contra você em caso de processo". Na caixa, a propaganda: "O favorito da família Sarney", dentro de um balão em formato de estrela.

Ou pode ser um elefantinho, mesmo, com a tromba no lugar das pernas manchando o vidro e caráter no lugar do terno, mas o deputado parece uma idéia mais divertida.

P.s.: Vou pro Rio agora à tarde. Se quiser me buscar no aeroporto e levar ao meu destino, fico muito feliz, senhor meu fã.

11 setembro, 2007

A maturidade

Algo que me chateia um pouco é a vontade de amadurecer que algumas pessoas têm. Ela é tão intensa, tão, mas tão forte, que essas pessoas acham que é preciso se esforçar pra gostar de coisas diferentes, coisas de que "gente madura" gosta, não esses filmes infantis que ele assiste sempre. De repente, lá está o inconformado, o imaturo, buscando um motivo pra odiar Titanic, que era seu filme favorito até ler que Titanic não é isso tudo, não, é um filme muito superestimado. Aí, primeiro passo, odeia o filme porque existem melhores. Ou por causa do Leonardo di Caprio ("não gosto dele, não, muito artificial! E olha que cara de menino! Querem fazer ele passar por ator, pode um negócio desses?"). [Uau! Quatro sinais de pontuação juntos. Ninguém pode fazer melhor!].

Daí cai numa de odiar brigadeiro porque beijinho é mais gostoso, e em pouco tempo se torna alguém que só come um doce - provavelmente pastel de nata, mas isso não vem ao caso. Aí descobre que doces são coisas infantis e que bom mesmo, que do que o pessoal maduro gosta mesmo, ah!, é de brócolis. E se esforça por comer brócolis contra a vontade de suas papilas, que se contorcem e deformam ao longo do tempo. E pára de rir, por dois motivos: ninguém maduro ri, por incapacidade, e ninguém que come brócolis tem esse direito - a natureza veda, um ou outro.

Já na literatura, pobres autores medíocres, tão desprezados por quem é mais vivido, mais conhecedor do mundo! Nunca alguém maduro lê bestsellers. Nenhum. Se disserem que Charles Dickens vendeu mais de duzentos exemplares de Oliver Twist quando era vivo, vira um autor muito comercial. Se o aspirante a maduro for comunista, um vendido. Se for conservador, "Dickens se entregou à vontade do populacho". Em ambos os casos, "bom mesmo era quando ele não queria agradar o mercado/o povão, era underground".

Na música, o maduro abandona tudo o que ouvia na juventude pra escutar compositores clássicos. E nunca é atacado por nostalgia, nunca tem lembranças. Lembranças são para os mais infantis. Só compositores clássicos merecem o ouvido maduro. "Lembra daquela banda X?", pergunta um amigo. "Não, mas tenho ouvido bastante a Heróica" é a resposta invariável.

Não se discute, claro, que a Heróica é grandiosa. Mas para o maduro ela não é grande pelas sensações que proporciona. É grande porque é matematicamente bem composta, como uma equação do segundo grau resolvida - ah, que prazer dariam ao maduros as equações de segundo grau, se eles fossem capazes se sentir prazer!

Maturidade e sensibilidade são opostas, e eu digo que nenhum maduro consegue se alegrar ouvindo Vivaldi, nenhum maduro vê filmes por lazer, pinturas por disposição. É tudo operação mecânica, tudo baseado puramente no gosto alheio e num senso de elitismo superestimado. Porque sensibilidade é coisa de criança ou de plebe, um homem maduro não se comove com facilidade.

Para testar um maduro, se você for considerado bom por ele, se for inspiração, diga que um autor muito ruim é muito bom, que uma música de segunda é maravilhosa. Para ele é tudo igual, tudo matemática, e ele concordará. A opinião dele é a mais maleável de todas - balança ao gosto de quem tem opinião verdadeira. Um maduro critica o gosto alheio baseado no de terceiros, e a autoridade é a única língua que entende. E sai por aí, divulgando Mozart, mas com o coração opresso, louco pra dançar Calypso.


P.s.: Só lembrei disso agora que terminei de escrever: Se morre algum parente do maduro, "era apenas um amontoado de moléculas que se foi, nada com que me preocupar. Isso é tudo? Você interrompeu meu Schubert".

09 setembro, 2007

Inteligência

Ser inteligente é evitar pensar, porque a realidade dói.

08 setembro, 2007

Eddie Cantor

Ah, o mundo é cheio dessas surpresas agradáveis. Numa tarde você está circulando pelas ruas do Youtube, vendo videos de Calamity Jane e você vai lá e dobra à direita num comentário de alguém que odeia os anos cinqüenta, parando numa página pessoal cheia de vídeos da década de trinta, todos com Eddie Cantor. E eu compartilho aqui porque quero muito que vocês me amem. Vamos, declarem-se. Passei todo o resto da tarde com ele, vendo sua cicatriz e fazendo aquele som esquisito com o lábio - que já vi em algum lugar, com outra pessoa, mas não lembro quem.

06 setembro, 2007

Tholl

O problema da internet é que, quanto mais falamos mal das coisas, mais gente nos procura atrás delas pelo google.

04 setembro, 2007

Conto inacabado

Vocês já devem ter notado que eu sempre começo coisas, às vezes até boas, como considero o vice-escolhido, e paro sem nenhuma explicação. Segue o início de mais um conto que comecei e não terminei, e a única explicação que posso dar é que sou incapaz de criar meios - tenho escrito o último parágrafo desse conto, mas não sei como carregá-lo até lá, de forma que vocês podem imaginar o meio e o fim como quiserem, que talvez nunca existam de verdade.

Outro que nunca terminei e que sempre me pareceu uma boa idéia foi o menino-peixe, pobre Fabiano, esquecido entre os velhos arquivos do word. A única coisa que peço é que vocês se divirtam com começos. Se alguém quiser construir um meio pra história sinta-se à vontade, como se eu fosse a professora da terceira série que manda completar um texto. Mas não se esqueçam de usar as palavras "flor", "nariz" e "capitão" e a expressão "vamos pra balada, minha nega". Uma boa oportunidade pra fingirmos que blogs são ferramentas interativas etc. Mas o que interessa aqui é isto:

De como nasceu uma flor no nariz do Capitão

Seu nome era Blake e seu navio o Sta. Luiza, nome obtido depois de um engano do pintor, que trocou a ordem das fôrmas acrílicas das letras Z e I, que homenageariam a santa protetora da visão, sentido mais apurado em nosso estimado capitão. Talvez a Santa tenha se irritado um pouco com isso, porque durante meses o Capitão Blake seria obrigado a usar um tapa-olho, vítima do ataque desmerecido de um bando de cisnes em migração - um dos quais ficou com seu olho direito, sobrando-lhe apenas o esquerdo. Eis a história de como ele recuperou não só a visão, mas também seu olho – o que é natural, pois ainda não se conhece uma forma de enxergar sem olho, embora se conheçam olhos que não enxergam.

A perda de sua visão teve no Capitão Blake efeito contrário ao que tem nos demais piratas, especialmente porque era tão cultuada por ele que, em vez de aumentar a ameaça que representava – todo pirata com olho de vidro costuma ser de hierarquia mais alta – ao lado dos de perna-de-pau e logo abaixo daqueles que usam ganchos para substituir as mãos – que piratas inteiros, pois a inteireza não diz muito sobre ninguém, a não ser que de duas uma: nunca tentou ou nunca falhou. Mas a primeira alternativa é bem mais precisa, pois não falha apenas quem não tenta o bastante.

Devia também assim ser nas outras profissões, pois qual é o esforço por que passa alguém para ser exatamente como mandou a natureza? Mais difícil é tornar-se outro, prova experiência. Quando for contratar um advogado, prefira um que perdeu uma orelha - ou numa busca por provas para inocentar seu cliente ou por lazer, para dá-la a uma prostituta. Esse advogado será superior aos outros. Quando for escolher um médico, fique com o paraplégico que se acidentou caindo de uma montanha para colher a erva rara que curaria seu paciente. Quando for votar em um presidente – a tarefa mais difícil – escolha um que perdeu, mais que o dedo, o cérebro, que quanto menos pensa um líder mais é livre pra pensar quem vive no país que ele governa.

Voltando, entretanto, ao nosso assunto, o estimado Capitão Blake, ao contrário dos outros piratas, ao perder o olho não ficou mais cruel: deixou a profissão, mantendo apenas o título e o nome. Assumiu como missão de vida recuperar – como quer que fosse – seu olho direito. E partiu em sua mais longa jornada, mas talvez a menos aventureira e perigosa, que assim têm de ser os fatos em narrativa de mau autor.

Era inglês, como indica seu nome, e rico, como indicam a profissão e o cargo. Comprou uma pequena frota, constituída de nau e caravelas, contratou os tripulantes e partiu rumo à Suécia, onde, disseram-lhe, vivia o melhor dos médicos do mundo.

03 setembro, 2007

Anarquia

Vida longa ao rei, mas que seja destronado.

01 setembro, 2007

Circo

O problema de uma gorda no circo é ela achar que precisa fazer graça pra rirem dela.
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Digo isso porque acabo de chegar de uma apresentação do grupo Tholl, de Pelotas, e a gordinha de lá - que grupo não tem uma gordinha? - ficava batendo na barriga e fazendo sons estranhos. Toda a pantomima exagerada ficaria bem sob uma tenda, mas estávamos num teatro, à noite, com iluminação toda bem feitinha e uma trilha sonora que caberia bem num filme da Barbie (ótimo sinal. Nos filmes da Barbie toca Quebra Nozes e O Lago dos Cisnes), apesar de duas músicas disco. Deu vontade de baixar o hino da Espanha - ou é o do México?

Mas ah, a parte circense é ótima. Todas aquelas acrobacias, com ar condicionado e poltrona acolchoada ficaram ótimas, apesar de não ter tido nada que desse medo - ou eu estava muito frio, não sei. Pirâmide humana, pessoas balançando naqueles panos que caem do teto, equilibrando-se sobre uma bola. E não tinha mágico. Por algum motivo só a palhaçada é obrigatória no circo. É preciso uma gorda batendo na barriga, são necessários erros propositais do malabarista, mas as cartolas são dispensáveis. É assim que funciona? Que quisessem manter a tradição no circo vá bem, mas cortando a mágica e deixando a gorda vestida de enfermeira sexy, qual!

E os artistas resmungavam coisas. Em meio àquela mímica exagerada havia ruídos misteriosos como "tictictictictic" ou "bumpbumpbump" ou "sshsshssh" e por aí milhares. E andavam daquele jeito que os palhaços andam, balançando muito as pernas. Depois executavam duplos mortais e me deixavam mais tranqüilo. Eu diria que não vale a pena, mas o ESPETÁCULO (essa palavra que sempre deve ser grafada em maiúsculas) é baratinho, R$7,50, e as acrobacias são muito bonitas mesmo. E a música, saída de uma sessão de Pocahontas, compensa a hora e meia dentro do teatro. E o ar condicionado, que compensa qualquer coisa em Recife.