26 setembro, 2007

Em que me sinto, pretensiosamente, Diogo Mainardi

Ah, as conseqüências! Se não fosse por ligar tanto pra elas, muita coisa estaria melhor no Brasil. Em Recife, por exemplo, um gari achou uma maleta com dinheiro - uns mil reais aí. Quarenta e cinco, acho - na prefeitura, ou pelo menos foi o que entendi do professor falando, e disse que entregou pro segurança da prefeitura, que deu um jeito de sumir com a maleta. A pergunta a se fazer é...

Errado, meu desatento leitor. Não interessa quem está com a maleta, quem fez o quê com ela. Não importa nada depois do encontro do gari com a maleta. A pergunta apropriada é "O que uma maleta com dinheiro fazia na prefeitura?" ou "Quem levou a maleta pra lá?"

Lembremos que o ambiente de que falamos é uma prefeitura, por onde circulam, naturalmente, políticos. O que o honrado segurança fez quando resolveu gastar por si o dinheiro da maleta - supondo que foi isso o que ele fez - foi evitar a conclusão de um poderoso esquema de propina. Mas o escândalo não se instaurou. Ninguém liga pro passado, as pessoas não gostam de investigar causas, ocupadas que estão com as decisões a se tomar - prende o guarda; bate; tortura; bandido; dinheiro público, devolve!; eu quero o meu.

Não considero crime o que o segurança fez porque eu não ia aproveitar nada mesmo do dinheiro, que seria gasto com prostitutas de luxo ou viagens à Malásia, para organizar esquemas internacionais de corrupção. Se não posso usar o dinheiro público, prefiro que um segurança use. Me sinto mais tranqüilo e seguro de perceber que, em vez de estar dando ainda mais dinheiro pra quem já me rouba sempre, tenho um bandido menor, um ladrão de galinhas, interessado nos meus bolsos - antes um trombadinha que a máfia.

Mas claro, existe a possibilidade de que uma maleta cheia de dinheiro escondida num banheiro da prefeitura fosse completamente lícita, esquecida lá por algum distraído que não liga o bastante pra dinheiro suficiente pra comprar um pequeno apartamento ou dar de entrada numa casa em bairro nobre. E digo isso, claro, rindo de tão ridícula que é essa hipótese, como se dinheiro honesto de alguma espécie pudesse entrar num órgão público sem sair fedendo ou se sujar logo na entrada.

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