28 agosto, 2007

Poucas coisas me deixam mais satisfeito que ver que me visitaram de um scrapbook ou de um e-mail. Esse tipo de visita é melhor que o habitual, porque significa que alguma outra pessoa se importou tanto com o que eu escrevi que enviou para os amigos - os melhores ou os mais inteligentes ou os mais pacientes. Esse tipo de situação me faz perceber que não sou tão ruim quanto penso e que posso agradar realmente alguém. E não é pra isso, afinal, que se escreve? Pra agradar o leitor?

Obrigado por mostrar gratidão, seu alguém. É uma satisfação atendê-lo.
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P.s.: Acho que ainda hoje vou arrumar minha lista de links, tirar os repetidos, essas coisas. Mas vou deixar aquele negócio de $@#$ em cada caractere não americano. Abraços, voltem sempre, sejam felizes e sirvam-se do pão de metro que está sobre a mesa, um delícia.

27 agosto, 2007

Meu primeiro James Joyce

Li Ulysses hoje, agora pela manhã. É um pouco grande, umas 18 frases, mas vale a pena.

25 agosto, 2007

Um dia tinha que surgir...

Finalmente um bom blog político, a realidade retratada nua.

Plutocracia Estéril

22 agosto, 2007

Filminho pra vocês

Cammy me disse que quase gostou de um trailer de um filme latino e que isso a assustou muito, porque não é normal se gostar de algo em um filme latino.

O filme é "Solo Dios Sabe" e digo que é excelente, mesmo sem ter visto. É a melhor forma de instigá-los a ver antes de mim e a vir reclamar ou elogiar depois ("oh, malvado, que péssimo gosto pra filmes!", "nossa, ótima recomendação, obrigado", "esse filme mudou minha vida!" etc). Dependendo do resultado, recomendo ou não pra Cammy (naturalmente, quanto menos vocês gostarem, mais recomendarei, porque vocês, em seu mau gosto, são capazes de gostar de Blade Runner e Obrigado por Fumar ao mesmo tempo, com uma única personalidade. Talvez consigam misturar Chicago e 2001 no mesmo saco de filmes - bom ou ruim, tanto faz.
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P.s.: Já repararam que os "filmes que mudam a vida" de alguém são quase todos bons, apesar do comentário? Pois bem, Chicago mudou minha vida, meu modo de encarar o mundo e, UAU!, a forma de olhar pra Catherine Zeta-Jones - assim como Moça com Brinco de Pérola me fez olhar com outros olhos todas as atrizes, e todas as mulheres, do mundo. Mas são olhos de reprovação, como se fosse um defeito não conseguir ser igual à Scarlett (é querer demais que nenhuma mulher tenha defeitos? Por amor de Cristo, é querer demais?)

20 agosto, 2007

O mais íntegro dos homens:

E tinha setecentas mulheres, princesas, e trezentas concubinas; e suas mulheres lhe perverteram o coração.

Vê, Salomão, que uma basta para a perversão de todos os outros.

17 agosto, 2007

Propaganda

Num post com mais erros de digitação que talento, meu amigo Rafael faz comentários interessantes sobre literatura nordestina. Já disse isso antes, mas repito: acho essa ressalva de lugar na literatura algo feito para beneficiar autores extremamente ruins, as para-olimpíadas literárias (ou os jogos para-brasileiros, sabe Deus). Dizer que Fulano é um nordestino que escreve bem equivale a dizer que Fulano escreve bem, para um nordestino.

Exemplos? Ninguém diz que "João Cabral foi um grande autor pernambucano". Manuel Bandeira? "Um dos maiores poetas do país". Se alguém se presta a fazer literatura, deve sair do ambiente local e, por mais que fale de sua terra, deve ter o objetivo de agradar a quem quer que seja. Ser grande em Pernambuco ou na Bahia equivale a não ser ninguém fora desses estados.

Mas chega, não vou falar mais nada. Vão lá, relevem os problemas de digitação do rapaz e leiam o post dele. Tem algumas observações bastante interessantes.

14 agosto, 2007

Cinema Novo II: Deus e o Diabo na Terra do Sol Nascente

No sertão do Japão feudal (ou seja, por volta de 1950), Corisco-san é um grande samurai cego, noivo da honorável Rosa-han. Domina como ninguém as artes da invasão de municípios e do tiro com a garrucha, o que o torna o mais respeitado homem do país, que ainda não conhece as armas de fogo e continua a brincar de facas. Filme de denúncias sociais, Deus e o Diabo na Terra do Sol Nascente fala da proteção que Corisco-san e seus seis homens dão a uma cidade pobre que sofre com a seca do país. Dezenas de samurais armados com o mais moderno equipamento de guerra do Japão, as katanas, são mortos a tiros por Corisco-san quando tentam a invasão. Tem um seqüestro no meio da história.

No fim, todos sapateiam nonsensemente com sandálias de madeira sobre um tablado.

11 agosto, 2007

Um desperdício de polvilho

Durante toda a minha vida achei que era isso que significavam a tapioca, o bolo de mandioca, o beiju - principalmente o beiju. Pra mim, todo o polvilho do mundo deveria ser gasto em pães de queijo, e toda a mandioca do mundo gasta no preparo de polvilho. Por muito pouco não ia além e desejava, como os sábios constituintes de outrora, que todo agricultor que se prezasse fosse obrigado a plantar X hectares de mandioca, desde que ela fosse toda convertida em pães de queijo.

Mas, na última semana, eu meio que viciei em tapioca: foram quatro sabores até agora, todos muito bons: queijo e coco, queijo e presunto, queijo e bacon e frango e catupiry. Essa nova experiência quase me fez aceitar que é possível uma tapioca superar o sabor de um pão de queijo. Uma boa tapioca, é claro, superar um mau pão de queijo.

Mas o beiju, ah, esse é desperdício.

09 agosto, 2007

Vice-escolhido

Por capítulos, nesta ordem: I, II e

III - Prelúdio

Isso aconteceu há mil anos, porque é o tempo certo para que aconteça qualquer fábula ou conto fantasioso. Daqui a mil anos, terá tudo acontecido hoje e, em mil e quinhentos anos, tudo terá acontecido meio milênio adiante da atualidade. Mesmo assim, não me quero consagrar como grande profeta, um novo Nostradamus, por narrar para os próximos milênios o que aconteceu milênios depois de minha vida. Tudo o que quero é continuar a história milenar, que por maldição de seu autor será sempre e apenas isto durante todo o curso da história: milenar.

O parágrafo acima é necessário porque, a partir de agora, tem início uma seqüência de dois ou três anacronismos. Que não se incomode o leitor: os anacronismos soam menos falsos que uma terra em que rinhas de dragões são o mais importante evento do ano, o que significa que, se o texto foi tolerado até agora, deve ser não menos tolerado a partir de agora.

Primeiro dos anacronismos, Marcos usava relógio de pulso. Esse poderia ser facilmente disfarçado sob a alegação de que Marcos o criou, mas usava sob a manga e não patenteou. Não é minha intenção, porém, mentir bobagens, e fica registrado o erro na contagem do tempo culpado pelo relógio. Se, entretanto, este texto for lido em mil anos, o anacronismo se desfaz como bolha de sabão furada pelos dedos grossos de uma criança bem nutrida.

O segundo anacronismo, falando-se em bolhas, é o sabão. Não se encontrarão neste texto pessoas sujas e fedidas, de onde se supõe que já havia bons sabonetes disponíveis, com cheiro de lavanda em vez de gordura.

O terceiro anacronismo é o local: tudo que aqui está escrito se passa no território do Brasil, e o Brasil de mil anos atrás não conhecia a civilização. Esse anacronismo, na verdade, foi minha maior dúvida: se, daqui a dois mil anos, e mil anos depois de então, e sucessivamente, o Brasil não se tornar um país civilizado, serei obrigado a trocar o povo do País do ambiente anacrônico para a seção de fantasia, onde ficará sentado entre os dragões e as fadas, algo a que espero não ser forçado, porque, apesar de os dragões serem simpáticos, as fadas falam demais com sua vozinha muito aguda.

E aqui termina este prólogo deslocado, que ficará em stand by para aparecer todas as vezes em que a criatividade do autor der uma volta e quiser inserir na história fatos encontrados no caminho.

Consta nos escritos que, depois do interlúdio, Marcos viu pela primeira vez Kátia Cibele.

08 agosto, 2007

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Sabe, poucas coisas são mais estranhas que pensar que os grandes homens um dia trabalharam. Saber que Machado de Assis escrevia pra jornais é assustador, porque é provável que haja outros Machados de Assis escrevendo por aí, e nós estamos perdendo tudo. Viver no presente é difícil. Bom seria viver sempre uns anos no futuro, para saber com antecedência o que é bom e o que é descartável e poder ler apenas o que de fato importa. O presente tenta sempre nos impor coisas medíocres, que furam a fila da ordem natural de apreciação e se jogam aos nossos pés, implorando para serem consideradas arte, os olhinhos minúsculos brilhando com umas lágrimas de sentimento forçado ou nos ameaçando rondar eternamente a consciência se não forem vistas.

Praqueles que sentem essa ameaça do presente, tudo o que é de hoje se iguala numa massa uniforme e é rejeitado de forma homogênea. Os novos Machados se escondem de qualquer forma: ou os pedintes de atenção são lidos antes, ou todos são ignorados. E a culpa é do tempo em que vivemos, e sempre foi.

Mas, vocês sabem, de nada adianta querer viver no futuro. O futuro também terá seus Machados, e nós não poderemos ler nem metade deles. A única ação a se tomar é tentar fazer o que as pessoas mais chatas do mundo indicam: deixar preconceitos de lado e tudo mais.

Se você, meu amigo, minha amiga, se deixou convencer pela minha argumentação e resolveu sair por aí em busca dos novos Machados, faça-me um favor: vá, e volte com alguns nomes pra mim. Escrever este texto me cansou e deixou indisposto para uma jornada em que serão necessários milhões de espinhos para cheirar meia dúzia de rosas - e sei que o aroma compensa o suor, mas compensa mais ainda que suem por mim e só me caiba a função de apreciar.

07 agosto, 2007

Educação

De nada valem surras em filho masoquista.

01 agosto, 2007

Ainda a literatura brasileira

Eu queria gostar de ressalvas pra jogar milhares nas suas caras e ficar feliz com isso, mas vou fazer isso mesmo sem gostar, um sofrimento em prol do Brasil - que, apesar de ser como é, sujo, fedido e mal educado, acho bem divertido às vezes. Lima Barreto (Pum!), Luís Fernando Veríssimo (Soc!), João Cabral (Pow!), Millôr (Paf!) e... acho que tá bom. Muito esforço tentar lembrar de mais.

Ah, sim, claro: Campos de Carvalho (golpe de misericórdia em salvação da literatura brasileira com onomatopéia trocada: Splash!).
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Outro dia o Frost me contou uma coisa que me deu até um orgulhinho de morar em Recife. Um empresário ia embarcar daqui pra Belo Horizonte e pediu fones de ouvido pra aeromoça. Reproduzo abaixo em diálogo provável:

- Aeromoça, traz fones de ouvido pra mim?

- Infelizmente, senhor, os fones da nave não estão funcionado.

- Ah, just like the breaks, uh? (pensei em algo em português, mas ficou tão pior que resolvi deixar assim. Último recurso.

Mas o orgulho some sempre que me lembro que ele foi expulso do vôo pela piada (a aeromoça, parece, ficou ofendidíssima). Um país que não aceita uma piada como crítica não está pronto a aceitar crítica alguma.