23 dezembro, 2006

Hiroxima, Nagasaki, Mururoa, ahhhhhh

O Singelo Mundo vai completar um ano em janeiro agora, dia 15, mas eu não estarei aqui para dar os parabéns. Viajo amanhã e só volto no começo de fevereiro. Espero que vocês passem aqui pra desejar um feliz natal, um próspero ano novo e deixar um presente de aniversário.

Depois de um ano (acho que deveria contar apenas três meses, já que os outros nove são péssimos e eu penso em deletar), posso dizer que me afeiçoei a ele e posso dizer o porquê: ev'ry earl and duke and peer is here; ev'ryone who should be here is here.

Pensei em fazer uma compilação dos melhores posts da história deste blog, mas seriam, talvez, dois bons textos e os demais de médios pra baixo.

Como vou viajar, deixarei a lista de livros que pretendo ler. É bem menor e menos pretenciosa que a última, porque eu não vou ler nos feriados que passar com a família. E no Rio de Janeiro? Vocês acham que eu vou ler no Rio de Janeiro?

Bem, aí está:

Crime e castigo
Tristam Shandy
As mil e uma noites (vol. I)
Objecto Quase
A bagagem do viajante
O Capote seguido de o retrato
O homem do princípio ao fim


É uma boa lista. Recomendo a todos vocês que leiam também esses mesmos títulos.

Falta falar de algo, mas não me lembro do quê. Enquanto isso, deixo links pras minhas músicas de natal preferidas (que não incluem a do título. Nunca entendi, aliás, essas menções a bombas atômicas numa música natalina. Nem aqueles trechos do tipo "é natal,/o que você fez?/o ano termina/e nasce outra vez", que, além de cobrar que façamos algo pra chegar o natal, ainda diz que natal é quando termina o ano ou que o ano termina com o natal. É estranho, como se pra comemorar meu aniversário eu fosse quebrar minhas pernas de propósito numa partida de frescobol nas areias de Ipanema).

Let it snow, let it snow
(There's no place like) home for the holidays
Chrissy, the christmas mouse

Oh, sim, claro, lembrei! Ontem pensei numa cena de abertura para meu musical gore, que será co-dirigido e produzido pela Cammy (que ainda tem que aprovar a cena). É assim:

Todos os fumantes de uma metrópole organizam uma passeata sem nenhum motivo aparente. Todos trazem um cigarro aceso em cada uma das mãos. São milhares de cigarros acesos e brilhando vermelho. Eles levam os cigarros à boca alternada e coreografadamente. Quando tragam, o brilho se fortalece, ficando ainda mais vermelho. Todos vestem trajes de gala padronizados; os homens de terno e cartola, ambos pretos, as mulheres com vestidos longos e pretos, sem brilho. É noite sem lua nem estrelas. A única luz existente é a dos cigarros. A câmera sai do alto de um prédio, trinta andares, desce rapidamente, fazendo uma curva, e foca no rosto da protagonista do filme. O cigarro dela acaba. Ela acende outro no do rapaz ao lado. É o protagonista. Assim eles se conhecem.

Ela agradece, sorrindo. Ele retribui o sorriso. Nenhuma palavra é trocada. Continuam a marcha.

Gostaram? Se não gostaram, não expressem opinião, não quero receber críticas.

Oh, sim, lembram do menino peixe? Aquele, que deve ser meu primeiro romance? Escrevi mais um trecho. Talvez seja o primeiro romance lançado aos poucos dentro de um blog. Mentira, não é. Mas a idéia de ser o primeiro me agrada bastante. Lá vão os novos trechos (são continuação daquele):

Mas que importa a história desse menino e porque eu a contei aqui é algo que jamais saberei, já que esse não apenas queria ser peixe, mas estava também predestinado a isso. Não passaria por mais que um ou dois contratempos em sua jornada, como a busca da forma correta para se alimentar, a etiqueta dos peixes. Fique o exemplo, então, apenas como prova de que é bastante comum que os meninos queiram se tornar peixes – e é talvez ainda mais comum que se transformem, já que alguns o fazem contra a vontade. Este é o relato de um menino diferente. Ele, coitado, queria mais que tudo ser um peixe, mas não era assim que seu destino queria. É o relato da pequena epopéia de Fabiano Peixoto, o menino que queria ser peixe, mas cujo destino o contrariava.

Não sei se assim funciona em terra do leitor, mas onde narro as pessoas nascem e, sobrevivendo até os três meses, as fadas madrinhas contam a elas o seu destino. Esses três meses são necessários para que se escreva toda a vida de cada um, detalhe por detalhe. Uma estenógrafa gaga é a encarregada do serviço, algo que faz muito bem com a ajuda da taquigrafia. O de Fabiano era um bom destino, alguns o consideravam, inclusive, o destino de seus sonhos. Fabiano, estava escrito, seria humano por toda a vida e ocuparia importante cargo burocrático. Para Fabiano, poucos destinos poderiam ser mais tediosos que se sentar numa poltrona dura e carimbar indefinidamente centenas de documentos todos os dias. Ele tinha pequenos calafrios só de pensar em receber estranhos todos os dias e pedir-lhes os documentos para carimbar. Era, acima de tudo, um menino bastante tímido.

Fabiano Peixoto já tinha traçado o seu plano de modificação de destino, algo que, ele sabia, seria inédito e brilhante. Era um plano simples, e deveria funcionar justamente por isso. Fabiano sabia que complicar as coisas é apenas impedir sua realização e tudo o que desejava era não falhar. O plano começava com uma longa e monótona caminhada até o lar da estenógrafa gaga. Lá ele a obrigaria a mudar o seu destino através de chantagem: ele seria um importante burocrata quando crescesse, se ela não mudasse o seu destino. E, se ela não mudasse o seu destino, ele a deporia do cargo de estenógrafa oficial de todos os destinos. Simples, prático, efetivo; uma ameaça baixa e funcional.

Para a viagem, Fabiano convidou um amigo, que também estava insatisfeito com seu destino: tornar-se um relógio de parede atrasado – por mais que se o pusessem pontual, ele atrasaria uma média de dois a três quartos de hora por dia. Joel Rèoiro era seu nome, e ele queria ser um importante burocrata. Joel sonhava com o destino de Fabiano e o invejava por isso, mas sabia que, assim que Fabiano conseguisse mudar seu destino, haveria nova vaga para o cargo que ocuparia. Joel a queria. A intenção de Joel era trocar o nome de Fabiano pelo seu na pasta do destino. Fabiano estava de acordo com a idéia de Joel e lhe dava o maior apoio possível.

Como é de se esperar de alguém que sonha em ser burocrata, Joel usava sempre camisas de mangas compridas, às vezes cobertas por um terno de mau corte e riscas de giz fora de moda. Tinha o rosto redondo e os olhos muito grandes, em contraste com seu nariz pequeno e discreto, e uma boca torta de quem está sempre de mau humor e lhe faltava um dente na frente da boca, na parte de cima. Dificilmente sorria, porque tinha vergonha de mostrar o buraco em sua boca e porque era bastante sério e levava a sério tudo o que se dizia. Uma grande verruga no dedo mindinho do pé o incomodava bastante e ele a mantinha sempre coberta por seus sapatos sociais. Joel se interessava imensamente por assuntos práticos, como a aplicação de dinheiro na bolsa de valores e a situação sócio-econômica da população.

Deixa eu ver se falta alguma coisa... hum... não, acho que está tudo certo. Feliz natal e um smashing, positively dashing ano novo pra vocês.

20 dezembro, 2006

A realidade é uma abstração humana

José de Alencar disse que a realidade é mais inverossímil que a ficção. Ok, José, vou ali deixar a varinha de condão da minha mãe no conserto. De vassoura, porque meu dragão tá no conserto.

19 dezembro, 2006

Ao polo Norte

Querido Papai Noel,

Meu presente este ano não vai exigir que o senhor gaste mais que o valor de uma faca e uma máquina do tempo (que, certamente, custa menos que um PlayStation 3).

Quero que o senhor volte ao século XIX e mate Machado de Assis no dia de seu nascimento. O fato de ele ter existido é um estorvo para mim, porque me impede de generalizar quando falo mal dos romancistas brasileiros. Penso em dizer “toda a literatura brasileira é lixo”, mas vem logo Machado, neguinho, epilético, depois de uma crise em que bateu três vezes a cabeça no chão, ainda com o nariz sangrando um pouco e uma babinha no quanto da boca, brigar comigo, dizer que não o inclua nesse bolo, que farinha boa não dá certo com ovos podres.
Gostaria de pedir que o senhor aproveitasse e matasse ao nascerem, também, os outros três ou quatro representantes de nossa literatura a que ainda dedico algum amor, como Millôr Fernandes, Lima Barreto, Luís Fernando Veríssimo (o que ainda puniria o estúpido do seu pai, um presente duplo!), Mario Quintana, Monteiro Lobato, Gregório de Matos e mais alguns outros que devo ter esquecido.

O motivo é, o senhor há de reconhecer, o mais justo possível. Como poderei viver fazendo ressalvas por aí? Como poderei respirar tendo que dizer que apenas a gigantesca maioria dos autores brasileiros é horrível, e não a totalidade? E ainda dizendo: “salvam-se tais e tais”? Faça-me o favor, bom velhinho!

Mas note, note, quantas ressalvas já fiz neste texto! Melhor parar por aqui, senão daqui a pouco peço pra matar José de Alencar, o que não seria exatamente bom para a minha crítica à literatura.

Com carinho,

Gustavo

P.s.: fui um bom menino durante todo o ano e ainda lavei bem atrás das orelhas a cada banho e nunca esqueci a pasta de dente destampada. Acho que mereço esse presentinho.

P.p.s.: dê um presente pra Noodle por me lembrar de dizer que lavei as orelhas.

16 dezembro, 2006

15 dezembro, 2006

Minhas aulas na faculdade são muito úteis

Vejam uma resenha que eu fiz:

Punky Brewster

Apesar do nome pimpão dado pela tradução brasileira, “Levada da Breca” é de fato um filme bastante pimpão. O “apesar” seria desnecessário, eu sei, mas falamos de um povo que deu a “Il buono, il brutto, il cattivo” o título de “Três homens em conflito” e a “Calamity Jane” o repulsivo nome de “Ardida como pimenta”, título que, um plural aqui, um retoque ali, eu daria a um filme pornô com lésbicas. Não que “Levada da Breca” seja a tradução perfeita para “Bringing up Baby”, oh, não, seria esperar demais dos brasileiros, mas convenhamos que ficou bastante divertido.

Quando se vai analisar um filme, geralmente fala-se um bom bocado sobre as atuações, mas, pelos céus!, são Katharine Hepburn e Cary Grant! Isso deve bastar sobre eles. Katharine é Susan Vance, uma jovem rica, linda, moderna e linda que se apaixona por Cary, no papel do museólogo (ou paleontólogo?) Dr. David Huxley, e acaba estragando sua vida com a melhor das intenções. Mas esse resumo está um tanto breve para descrever todo o filme. Vamos a alguns detalhes, sem nenhuma ordenação especial.

O Baby do título não se refere a Katharine. Tampouco se refere a uma pessoa qualquer, mas a um leopardo caçado pelo irmão de Susan no Brasil (interpretado divinamente pelo leopardo Nissa, segundo dados do IMDB). Susan está guardando Baby em casa para seu irmão. O doutor Huxley espera um importante osso para completar o esqueleto de um dinossauro que vai, futuramente, dar a ele, via Susan, o nome falso de “Mr. Bone” (senhor Osso, literalmente).

Eles se conhecem no golfe, quando Susan estraga e rouba, sem querer, o carro de Huxley, juntamente com sua partida de golfe e o encontro com o advogado de Elizabeth Random, milionária que pensava em doar um milhão de dólares para o museu de Huxley. A princípio Susan pensa que Huxley a persegue e ele se acha um azarado por ter sempre ela por perto a partir de então (a cena do bar, em que eles rasgam sem querer suas roupas, é das mais divertidas do filme).

Huxley está de casamento marcado para “amanhã”, com sua colega de trabalho que dispensa até a lua de mel, por causa do trabalho. Uma workaholic pé-no-saco, em resumo. Mas Katharine não deixa que eles se casem. Ela o leva para a chácara (casa de campo?) de sua tia, junto a Baby, e arruma maneiras de mantê-lo lá (como roubar sua roupa enquanto toma banho, obrigando-o a usar um delicado roupão feminino e, depois, as pequenas roupas do irmão de Susan).

Coincidentemente, a tia de Susan é Elizabeth Random e Susan é candidata ao milhão de dólares a que o museu concorria. Ela não dá a mínima, porque está apaixonada e tudo o que quer é a felicidade do personagem de Cary Grant. É curioso, já que tudo o que ela consegue é estragar aos poucos toda a vida dele. Primeiro, ela o impede de se casar. A seguir, faz com que perca seu milhão. Por sua culpa, o cachorro de Elizabeth Random esconde o último osso do dinossauro de Huxley. Por sua culpa vão presos. Graças a ela o filme é tão bom.

O filme não conta com um “ápice”, assim dito, mas é todo ele ritmado na mesma velocidade e intensidade – assim como “2001: uma odisséia no espaço”: ambos seguem o filme inteiro com a mesma velocidade. A diferença é que “Bringing up Baby” tem alguma velocidade, ao contrário da Odisséia, que não sai do lugar durante suas mais de duras horas (que parecem dias) e é o pior filme já feito – gente andando pelas paredes, pff!

Menti. O filme tem, sim, um ápice. É a “Cena da Escada”, assim batizada por mim por causa da escada em cujo topo Katharine balança, apaixonada, derrubando-a se pendurando no esqueleto do dinossauro, até que Cary Grant a segura, o dinossauro desmorona e eles ficam juntos. Um excelente final feliz.

Se você tem bom gosto e concorda que “2001” é péssimo, deve gostar de “Bringing up Baby”. Filme quatro estrelas.


Não notem o amadorismo da resenha, esqueçam que não citei o diretor nem o ano do filme. A única coisa que me deixa apreensivo é: será que a professora gosta de bom humor?

12 dezembro, 2006

Um bom tédio é aquele que nos faz dormir mais profundamente

Um amigo meu disse que gosta de "2001: Um Odisséia no Espaço" porque o tédio e a sensação de cansaço propostos por Kubrick são intencionais, o que ele prova comparando com "Laranja Mecânica", que, segundo ele, segue um ritmo infinitamente superior, não que seja difícil ser superior a zero. Ocorreu-me agora uma pergunta: se uma mulher é intencionalmente feia, e consegue ser completamente feia, será que ela é melhor por isso? Mais bonita, talvez?

Não afirmo que filmes parados são necessariamente ruins. São bastante bons, quando têm uma história. O tédio nem me acomete - oh, Moça com Brinco de Pérola, oh!, oh! Mas sei lá, o povo tem essa mania de aproximar opostos que me irrita um pouco. "É tão bonita que é feia", "é tão ruim que chega a ser bom". Conclusão: sopa de quiabo pra eles. Salada de brócolis*.

A gente nunca vê ninguém dizer isso com coisas objetivas, do tipo "tá tão escuro que até ofusca meus olhos" ou "o colchão é tão macio que até fura minha coluna". Aí começam a querer aplicar exatamente o contrário nos sentimentos, a pretexto de ser "contraditório" ou "um ser paradoxal". Ou ame ou odeie ou faça ambos ao mesmo tempo. Eles juram que conseguem, eu só acho que estão loucos.

P.s.: sobre gostar de algo porque atingiu seu fim, segue um trecho do verbete "Belo, beleza" do Dicionário Filosófico de Voltaire:

Belo, beleza

Perguntai a um sapo que é a beleza, o supremo belo, o to kalon. Responder-vos-á ser a sapa com os dois olhos exagerados e redondos encaixados na cabeça minúscula, a boca larga e chata, o ventre amarelo, o dorso pardo. Interrogai um negro da Guiné O belo para ele é - uma pele negra e oleosa, olhos cravados, nariz esborrachado. Indagai ao diabo. Dir-vos-á que o belo é um par de cornos, quatro garras e cauda. Inquiri os filósofos. Responder-vos-ão com aranzéis. Falta-lhes algo de conforme ao arquétipo do
belo em essência, o to kalon.

Assistia eu certa vez à representação de uma tragédia em companhia de um filósofo.

- Como é belo! - dizia ele.
- Que viu o sr. de belo?
- O autor atingiu seu fim.

No dia seguinte ele tomou um purgante que lhe fez efeito.

- O purgante atingiu seu fim - disse-lhe eu. - Eis um belo purgante.


* Talvez eles realmente achem que dobradinha é bom de tão ruim. Tenho medo de acreditar.

10 dezembro, 2006

Retratação com o povo brasileiro

É triste, pessoal, mas eu errei em meu julgamento sobre o povo brasileiro. Apesar disso, vocês não imaginam como estou feliz: descobri hoje que há, sim, gente inteligente - ou espertinha, pelo menos - em nosso país. Foi no ônibus, indo buscar um amigo de um amigo na rodoviária, que ouvi o diálogo que segue, entre um homem, cerca de trinta anos, mal vestido, que conversava com um jovem, de uns vinte e três, também maltrapilho, enquanto passávamos em frente à Sudene:

H - Parece que vão reabrir a Sudene, né?

J - É. Esse antro de corrupção, o paraíso do desvio de verba. E a Sudam também. :¬( [ele realmente fez essa cara de emoticon triste, que eu achava apenas simbólica]

(...)

J - E você viu que Eduardo Campos, nem assumiu, já disse que não vai dar pra baixar a conta de luz? Assumiu isso só como promessa de campanha.

[De alguma forma o assunto chegou até aqui. Eles vinham falando de corrupção e etc. e descambou pra esse lado]

H - A coisa mais estúpida que alguém pode prometer, né? Baixar conta de luz, como se a Celpe não fosse uma empresa. Se neguinho chegasse no "Mercado de Pai" pra baixar preço, uma porra que eu baixava. A gente precisa ganhar pra viver. A Celpe tá mais é certa.

J - O problema é que ela tem esse monopólio escroto. Deviam deixar o povo abrir mais empresas de energia. Não sei pra quê esse negócio de uma empresa só.

H - Se o "Mercado de Pai" fosse o único mercado da cidade a gente era rico, mas ia ter bem mais pobre por aí. Quero nada. Quero mais é escolher o que comprar.


Depois eles falaram do monopólio da telefonia, da privatização da Petrobrás e mais sete mil assuntos, todos assim, bonitos. Acompanhando sempre a música ambiente, uma sessão infinita de Roberto Carlos numa rádio que não pude identificar. "Sou taxista, tô na rua, tô na pista. Não estou no palco, mas no asfalto eu sou artista".

Parece-me que o brasileiro continua com mau gosto pra música. Mas isso muda com o tempo, ah, se muda!

06 dezembro, 2006

Eu sou fã do É o Tchan

Eu tenho uma forma bastante certa de julgar as coisas: pelos fãs.

Por exemplo, RPG. Vejo que os fãs de RPG saem por aí vestidos de vampiros e matando seus pais. Daí concluo que não é uma coisa muito legal pra se fazer. Fãs de animes costumam brincar de soltar poderes na gente enquanto tentamos ler um livro ou ver um filme. De repente, olhamos para o lado e lá está aquela gigantesca bola de chi dourado correndo na nossa direção. Isso também não é exatamente um sonho.

E há outros exemplos por aí. Abundam. Metaleiros gostam de se bater, rappers gostam de protestar e dançarinos de pump it up gostam de dançar no pump it up. Tudo dispensável, no fim das contas.

03 dezembro, 2006

O dia em que Clarice acertou

Como o tema é “escritores”, vou aproveitar a deixa pra falar sobre algo de que poucos têm conhecimento.

Clarice Lispector, conhecida nacionalmente como o maior pé-no-saco da literatura universal, não escreveu em sua vida apenas coisas ruins, como é de se esperar dela. Diz a história que, certa vez, Clarice acordou bastante inspirada para fazer o seu maior romance, que se chamaria – ela já tinha um título – “A hora da estrela”.

Depois de quatro dias e quatro noites sem comer nem dormir, ela tinha em mãos um belo romance, sem baratas, sem imigrantes, sem surpresas desagradáveis. A história falava de uma moça bonita com nome feio, Macabéa, que lutava por uma chance em grandes musicais, pois tinha bela voz e interpretava muito bem. Macabéa só não conseguia vagas por conta de seu nome.

Quando Macabéa resolve mudar de nome, passando a se chamar Carmem, consegue, finalmente, uma vaga num musical, como protagonista. O romance terminava com o fim da primeira apresentação de Carmem, a imprensa a aclamando como “a mais bela das vozes" e "a mais charmosa das mulheres” e o mundo sorrindo para ela, mantendo uma certa distância reverente.

Depois dos quatro dias e quatro noites seguidas, com o romance pronto, Clarice Lispector dormiu por três dias inteiros seguidos. Isso somou sete dias sem um grão de arroz na boca, o que a levou a comer durante dois dias sem parar. Terminado esse tempo, nove dias, se não me atrapalho com as contas, Clarice foi reler, orgulhosa, o que havia escrito. Entrentanto, ela se decepcionou ao ver que havia escrito algo realmente bom, acendeu a lareira e jogou todos os papéis datilografados dentro dela.

Daí a história da Macabéa imigrante de Alagoas...

01 dezembro, 2006

Agatha Christie me dá nojinho

Bom, o Tiago me passou um meme que vinha rolando pela internet e, como não podia deixar de ser, estou seguindo a regra. Ouvi dizer que quem quebrar essa corrente será amaldiçoado com seis anos de brócolis no almoço todos os dias. O meme é sobre autores de que desistimos.

Lá vai:

Não é nada quanto à obra dela, não, não. Puro preconceito. Na verdade, nunca li. Tentei “O Assassinato na Casa do Pastor”, único que tenho em casa, mas não passei do segundo parágrafo. Agatha Christie, isso mesmo. Não gosto e ponto final, vai discutir? O fato de eu ter doze anos quando tentei ler não importa nem minimamente, sou muito constante em minhas opiniões.

Não sou muito chegado em livros de mulheres, de fato; pus a Agatha por exigência da constituição e tal, esse negócio de cotas. Ela me parecia digna de entrar na lista. A princípio pensei na Virgínia Woolf, mas falamos de escritores aqui, ne pas? Vamos aos homens, os dois que faltam:

Pensei em algum brasileiro pra citar aqui, mas não acho justo. Vai um outro que odeio sem ter lido jamais: Jostein Gaarder. Aquele negócio de ler "O mundo de Sofia" não me afetou. Resisti bravamente, como quem resiste a ondas gigantescas quebrando sobre a cabeça. O que me irrita nesse autor é o fato de que eu sou incapaz de escrever seu nome corretamente sem recorrer a algum site. O mesmo me irritaria no Arnold Schwarzenegger se ele fosse escritor.

O último é o mestre do terror, Stephen King. Depois de assistir a "O apanhador de sonhos", tudo o que se quer é distância dele. O fato de ele ter escrito também "Christine, o carro assassino" é repulsivo o bastante.

Ouvi dizer, outro dia, que dizer que vai fazer uma lista com dez e colocar nove itens é ultrapassado. Farei diferente aqui: prometi três, vou dar quatro. Sou generoso. Vou procurar na minha lista de autores lidos algum que eu não pretendo repetir. Um momento, sim?

Pronto, voltei. Pensei em brincar aqui e dizer autores bons, como Saramago e Hermann Hesse, que eu pretendo, sim, repetir, mas lá vai outro nobelista (este, idiota) (e precisarão de muita força pra me tirar da decisão de não lê-lo mais): Gabriel Garcia Marquez. Li "O amor nos tempos do cólera" e odiei. Só menti quando disse que não quero mais ler nada dele. Um dia leio Cem anos de solidão. Quando passar o trauma dos tempos do cólera - de cujo enredo nem me lembro mais, mas que deixou cicatrizes profundas na minha alma. Outro nobelista que não lerei novamente (mas acho que nem merecia menção, então não faz parte da minha lista) é Juan Ramón Jiménez (Platero y yo). Esqueçam que eu o citei aqui, senão a lista fica errada.

Ainda mais uma surpresa: estimulado pelo fato de ter feito cota para mulheres, falo de mais um, para que minha lista oficial conte com quatro autores homens e a cota de vinte por cento esteja correta. Agora um autor que não li, mas tentei. E parei por pura preguiça. Céus!, fiz isso várias vezes!, mas vou mencionar apenas uma, não quero roubar seu tempo.

Alexandre Dumas Filho. Tentei ler aos quinze anos, creio, A Dama das Camélias. Cansei por volta da página quinze, suponho. Não me lembro bem. Estava numa fase de não ler muita coisa que não americana/inglesa/alemã. A preguiça me impediu. Vou ler o pai em breve. Talvez depois leia o filho. E, se gostar, chego até seu último descendente vivo.

Para não quebrar a linda corrente, com elos coloridos, mas não gay, passo para a Noodle, uma mulher que gosto de ler, o Jack Frost, porque é meu amiguinho, e o Rafael, porque é outro amiguinho meu. Sou muito chato e só quero amigos participando da corrente. Tenho medo de quebrarem, mas acho que eles não vão querer brócolis...

P.s.:O título está um tanto gay, mas quem liga? E a Noodle também é minha amiguinha, mas ia ficar repetitivo dizer isso no texto. Beijo, Noo.

Outra coisa: gostaria de mandar pra Cammy, outra amiguinha (beijos, Cammy, beijos, Frost, beijos, Rafael), mas ela não tem mais o Wonderland. :¬(

Update: Tentei ler Crime e Castigo uma vez, mas desisti. Não pus Dostoievski na lista porque vou começar a ler na segunda, quando já terei terminado "A coisa não-Deus".