23 dezembro, 2006

Hiroxima, Nagasaki, Mururoa, ahhhhhh

O Singelo Mundo vai completar um ano em janeiro agora, dia 15, mas eu não estarei aqui para dar os parabéns. Viajo amanhã e só volto no começo de fevereiro. Espero que vocês passem aqui pra desejar um feliz natal, um próspero ano novo e deixar um presente de aniversário.

Depois de um ano (acho que deveria contar apenas três meses, já que os outros nove são péssimos e eu penso em deletar), posso dizer que me afeiçoei a ele e posso dizer o porquê: ev'ry earl and duke and peer is here; ev'ryone who should be here is here.

Pensei em fazer uma compilação dos melhores posts da história deste blog, mas seriam, talvez, dois bons textos e os demais de médios pra baixo.

Como vou viajar, deixarei a lista de livros que pretendo ler. É bem menor e menos pretenciosa que a última, porque eu não vou ler nos feriados que passar com a família. E no Rio de Janeiro? Vocês acham que eu vou ler no Rio de Janeiro?

Bem, aí está:

Crime e castigo
Tristam Shandy
As mil e uma noites (vol. I)
Objecto Quase
A bagagem do viajante
O Capote seguido de o retrato
O homem do princípio ao fim


É uma boa lista. Recomendo a todos vocês que leiam também esses mesmos títulos.

Falta falar de algo, mas não me lembro do quê. Enquanto isso, deixo links pras minhas músicas de natal preferidas (que não incluem a do título. Nunca entendi, aliás, essas menções a bombas atômicas numa música natalina. Nem aqueles trechos do tipo "é natal,/o que você fez?/o ano termina/e nasce outra vez", que, além de cobrar que façamos algo pra chegar o natal, ainda diz que natal é quando termina o ano ou que o ano termina com o natal. É estranho, como se pra comemorar meu aniversário eu fosse quebrar minhas pernas de propósito numa partida de frescobol nas areias de Ipanema).

Let it snow, let it snow
(There's no place like) home for the holidays
Chrissy, the christmas mouse

Oh, sim, claro, lembrei! Ontem pensei numa cena de abertura para meu musical gore, que será co-dirigido e produzido pela Cammy (que ainda tem que aprovar a cena). É assim:

Todos os fumantes de uma metrópole organizam uma passeata sem nenhum motivo aparente. Todos trazem um cigarro aceso em cada uma das mãos. São milhares de cigarros acesos e brilhando vermelho. Eles levam os cigarros à boca alternada e coreografadamente. Quando tragam, o brilho se fortalece, ficando ainda mais vermelho. Todos vestem trajes de gala padronizados; os homens de terno e cartola, ambos pretos, as mulheres com vestidos longos e pretos, sem brilho. É noite sem lua nem estrelas. A única luz existente é a dos cigarros. A câmera sai do alto de um prédio, trinta andares, desce rapidamente, fazendo uma curva, e foca no rosto da protagonista do filme. O cigarro dela acaba. Ela acende outro no do rapaz ao lado. É o protagonista. Assim eles se conhecem.

Ela agradece, sorrindo. Ele retribui o sorriso. Nenhuma palavra é trocada. Continuam a marcha.

Gostaram? Se não gostaram, não expressem opinião, não quero receber críticas.

Oh, sim, lembram do menino peixe? Aquele, que deve ser meu primeiro romance? Escrevi mais um trecho. Talvez seja o primeiro romance lançado aos poucos dentro de um blog. Mentira, não é. Mas a idéia de ser o primeiro me agrada bastante. Lá vão os novos trechos (são continuação daquele):

Mas que importa a história desse menino e porque eu a contei aqui é algo que jamais saberei, já que esse não apenas queria ser peixe, mas estava também predestinado a isso. Não passaria por mais que um ou dois contratempos em sua jornada, como a busca da forma correta para se alimentar, a etiqueta dos peixes. Fique o exemplo, então, apenas como prova de que é bastante comum que os meninos queiram se tornar peixes – e é talvez ainda mais comum que se transformem, já que alguns o fazem contra a vontade. Este é o relato de um menino diferente. Ele, coitado, queria mais que tudo ser um peixe, mas não era assim que seu destino queria. É o relato da pequena epopéia de Fabiano Peixoto, o menino que queria ser peixe, mas cujo destino o contrariava.

Não sei se assim funciona em terra do leitor, mas onde narro as pessoas nascem e, sobrevivendo até os três meses, as fadas madrinhas contam a elas o seu destino. Esses três meses são necessários para que se escreva toda a vida de cada um, detalhe por detalhe. Uma estenógrafa gaga é a encarregada do serviço, algo que faz muito bem com a ajuda da taquigrafia. O de Fabiano era um bom destino, alguns o consideravam, inclusive, o destino de seus sonhos. Fabiano, estava escrito, seria humano por toda a vida e ocuparia importante cargo burocrático. Para Fabiano, poucos destinos poderiam ser mais tediosos que se sentar numa poltrona dura e carimbar indefinidamente centenas de documentos todos os dias. Ele tinha pequenos calafrios só de pensar em receber estranhos todos os dias e pedir-lhes os documentos para carimbar. Era, acima de tudo, um menino bastante tímido.

Fabiano Peixoto já tinha traçado o seu plano de modificação de destino, algo que, ele sabia, seria inédito e brilhante. Era um plano simples, e deveria funcionar justamente por isso. Fabiano sabia que complicar as coisas é apenas impedir sua realização e tudo o que desejava era não falhar. O plano começava com uma longa e monótona caminhada até o lar da estenógrafa gaga. Lá ele a obrigaria a mudar o seu destino através de chantagem: ele seria um importante burocrata quando crescesse, se ela não mudasse o seu destino. E, se ela não mudasse o seu destino, ele a deporia do cargo de estenógrafa oficial de todos os destinos. Simples, prático, efetivo; uma ameaça baixa e funcional.

Para a viagem, Fabiano convidou um amigo, que também estava insatisfeito com seu destino: tornar-se um relógio de parede atrasado – por mais que se o pusessem pontual, ele atrasaria uma média de dois a três quartos de hora por dia. Joel Rèoiro era seu nome, e ele queria ser um importante burocrata. Joel sonhava com o destino de Fabiano e o invejava por isso, mas sabia que, assim que Fabiano conseguisse mudar seu destino, haveria nova vaga para o cargo que ocuparia. Joel a queria. A intenção de Joel era trocar o nome de Fabiano pelo seu na pasta do destino. Fabiano estava de acordo com a idéia de Joel e lhe dava o maior apoio possível.

Como é de se esperar de alguém que sonha em ser burocrata, Joel usava sempre camisas de mangas compridas, às vezes cobertas por um terno de mau corte e riscas de giz fora de moda. Tinha o rosto redondo e os olhos muito grandes, em contraste com seu nariz pequeno e discreto, e uma boca torta de quem está sempre de mau humor e lhe faltava um dente na frente da boca, na parte de cima. Dificilmente sorria, porque tinha vergonha de mostrar o buraco em sua boca e porque era bastante sério e levava a sério tudo o que se dizia. Uma grande verruga no dedo mindinho do pé o incomodava bastante e ele a mantinha sempre coberta por seus sapatos sociais. Joel se interessava imensamente por assuntos práticos, como a aplicação de dinheiro na bolsa de valores e a situação sócio-econômica da população.

Deixa eu ver se falta alguma coisa... hum... não, acho que está tudo certo. Feliz natal e um smashing, positively dashing ano novo pra vocês.

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