15 dezembro, 2006

Minhas aulas na faculdade são muito úteis

Vejam uma resenha que eu fiz:

Punky Brewster

Apesar do nome pimpão dado pela tradução brasileira, “Levada da Breca” é de fato um filme bastante pimpão. O “apesar” seria desnecessário, eu sei, mas falamos de um povo que deu a “Il buono, il brutto, il cattivo” o título de “Três homens em conflito” e a “Calamity Jane” o repulsivo nome de “Ardida como pimenta”, título que, um plural aqui, um retoque ali, eu daria a um filme pornô com lésbicas. Não que “Levada da Breca” seja a tradução perfeita para “Bringing up Baby”, oh, não, seria esperar demais dos brasileiros, mas convenhamos que ficou bastante divertido.

Quando se vai analisar um filme, geralmente fala-se um bom bocado sobre as atuações, mas, pelos céus!, são Katharine Hepburn e Cary Grant! Isso deve bastar sobre eles. Katharine é Susan Vance, uma jovem rica, linda, moderna e linda que se apaixona por Cary, no papel do museólogo (ou paleontólogo?) Dr. David Huxley, e acaba estragando sua vida com a melhor das intenções. Mas esse resumo está um tanto breve para descrever todo o filme. Vamos a alguns detalhes, sem nenhuma ordenação especial.

O Baby do título não se refere a Katharine. Tampouco se refere a uma pessoa qualquer, mas a um leopardo caçado pelo irmão de Susan no Brasil (interpretado divinamente pelo leopardo Nissa, segundo dados do IMDB). Susan está guardando Baby em casa para seu irmão. O doutor Huxley espera um importante osso para completar o esqueleto de um dinossauro que vai, futuramente, dar a ele, via Susan, o nome falso de “Mr. Bone” (senhor Osso, literalmente).

Eles se conhecem no golfe, quando Susan estraga e rouba, sem querer, o carro de Huxley, juntamente com sua partida de golfe e o encontro com o advogado de Elizabeth Random, milionária que pensava em doar um milhão de dólares para o museu de Huxley. A princípio Susan pensa que Huxley a persegue e ele se acha um azarado por ter sempre ela por perto a partir de então (a cena do bar, em que eles rasgam sem querer suas roupas, é das mais divertidas do filme).

Huxley está de casamento marcado para “amanhã”, com sua colega de trabalho que dispensa até a lua de mel, por causa do trabalho. Uma workaholic pé-no-saco, em resumo. Mas Katharine não deixa que eles se casem. Ela o leva para a chácara (casa de campo?) de sua tia, junto a Baby, e arruma maneiras de mantê-lo lá (como roubar sua roupa enquanto toma banho, obrigando-o a usar um delicado roupão feminino e, depois, as pequenas roupas do irmão de Susan).

Coincidentemente, a tia de Susan é Elizabeth Random e Susan é candidata ao milhão de dólares a que o museu concorria. Ela não dá a mínima, porque está apaixonada e tudo o que quer é a felicidade do personagem de Cary Grant. É curioso, já que tudo o que ela consegue é estragar aos poucos toda a vida dele. Primeiro, ela o impede de se casar. A seguir, faz com que perca seu milhão. Por sua culpa, o cachorro de Elizabeth Random esconde o último osso do dinossauro de Huxley. Por sua culpa vão presos. Graças a ela o filme é tão bom.

O filme não conta com um “ápice”, assim dito, mas é todo ele ritmado na mesma velocidade e intensidade – assim como “2001: uma odisséia no espaço”: ambos seguem o filme inteiro com a mesma velocidade. A diferença é que “Bringing up Baby” tem alguma velocidade, ao contrário da Odisséia, que não sai do lugar durante suas mais de duras horas (que parecem dias) e é o pior filme já feito – gente andando pelas paredes, pff!

Menti. O filme tem, sim, um ápice. É a “Cena da Escada”, assim batizada por mim por causa da escada em cujo topo Katharine balança, apaixonada, derrubando-a se pendurando no esqueleto do dinossauro, até que Cary Grant a segura, o dinossauro desmorona e eles ficam juntos. Um excelente final feliz.

Se você tem bom gosto e concorda que “2001” é péssimo, deve gostar de “Bringing up Baby”. Filme quatro estrelas.


Não notem o amadorismo da resenha, esqueçam que não citei o diretor nem o ano do filme. A única coisa que me deixa apreensivo é: será que a professora gosta de bom humor?

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