03 dezembro, 2006

O dia em que Clarice acertou

Como o tema é “escritores”, vou aproveitar a deixa pra falar sobre algo de que poucos têm conhecimento.

Clarice Lispector, conhecida nacionalmente como o maior pé-no-saco da literatura universal, não escreveu em sua vida apenas coisas ruins, como é de se esperar dela. Diz a história que, certa vez, Clarice acordou bastante inspirada para fazer o seu maior romance, que se chamaria – ela já tinha um título – “A hora da estrela”.

Depois de quatro dias e quatro noites sem comer nem dormir, ela tinha em mãos um belo romance, sem baratas, sem imigrantes, sem surpresas desagradáveis. A história falava de uma moça bonita com nome feio, Macabéa, que lutava por uma chance em grandes musicais, pois tinha bela voz e interpretava muito bem. Macabéa só não conseguia vagas por conta de seu nome.

Quando Macabéa resolve mudar de nome, passando a se chamar Carmem, consegue, finalmente, uma vaga num musical, como protagonista. O romance terminava com o fim da primeira apresentação de Carmem, a imprensa a aclamando como “a mais bela das vozes" e "a mais charmosa das mulheres” e o mundo sorrindo para ela, mantendo uma certa distância reverente.

Depois dos quatro dias e quatro noites seguidas, com o romance pronto, Clarice Lispector dormiu por três dias inteiros seguidos. Isso somou sete dias sem um grão de arroz na boca, o que a levou a comer durante dois dias sem parar. Terminado esse tempo, nove dias, se não me atrapalho com as contas, Clarice foi reler, orgulhosa, o que havia escrito. Entrentanto, ela se decepcionou ao ver que havia escrito algo realmente bom, acendeu a lareira e jogou todos os papéis datilografados dentro dela.

Daí a história da Macabéa imigrante de Alagoas...

Nenhum comentário: