Vocês já devem ter notado que eu sempre começo coisas, às vezes até boas, como considero o vice-escolhido, e paro sem nenhuma explicação. Segue o início de mais um conto que comecei e não terminei, e a única explicação que posso dar é que sou incapaz de criar meios - tenho escrito o último parágrafo desse conto, mas não sei como carregá-lo até lá, de forma que vocês podem imaginar o meio e o fim como quiserem, que talvez nunca existam de verdade.
Outro que nunca terminei e que sempre me pareceu uma boa idéia foi o menino-peixe, pobre Fabiano, esquecido entre os velhos arquivos do word. A única coisa que peço é que vocês se divirtam com começos. Se alguém quiser construir um meio pra história sinta-se à vontade, como se eu fosse a professora da terceira série que manda completar um texto. Mas não se esqueçam de usar as palavras "flor", "nariz" e "capitão" e a expressão "vamos pra balada, minha nega". Uma boa oportunidade pra fingirmos que blogs são ferramentas interativas etc. Mas o que interessa aqui é isto:
De como nasceu uma flor no nariz do Capitão
Seu nome era Blake e seu navio o Sta. Luiza, nome obtido depois de um engano do pintor, que trocou a ordem das fôrmas acrílicas das letras Z e I, que homenageariam a santa protetora da visão, sentido mais apurado em nosso estimado capitão. Talvez a Santa tenha se irritado um pouco com isso, porque durante meses o Capitão Blake seria obrigado a usar um tapa-olho, vítima do ataque desmerecido de um bando de cisnes em migração - um dos quais ficou com seu olho direito, sobrando-lhe apenas o esquerdo. Eis a história de como ele recuperou não só a visão, mas também seu olho – o que é natural, pois ainda não se conhece uma forma de enxergar sem olho, embora se conheçam olhos que não enxergam.
A perda de sua visão teve no Capitão Blake efeito contrário ao que tem nos demais piratas, especialmente porque era tão cultuada por ele que, em vez de aumentar a ameaça que representava – todo pirata com olho de vidro costuma ser de hierarquia mais alta – ao lado dos de perna-de-pau e logo abaixo daqueles que usam ganchos para substituir as mãos – que piratas inteiros, pois a inteireza não diz muito sobre ninguém, a não ser que de duas uma: nunca tentou ou nunca falhou. Mas a primeira alternativa é bem mais precisa, pois não falha apenas quem não tenta o bastante.
Devia também assim ser nas outras profissões, pois qual é o esforço por que passa alguém para ser exatamente como mandou a natureza? Mais difícil é tornar-se outro, prova experiência. Quando for contratar um advogado, prefira um que perdeu uma orelha - ou numa busca por provas para inocentar seu cliente ou por lazer, para dá-la a uma prostituta. Esse advogado será superior aos outros. Quando for escolher um médico, fique com o paraplégico que se acidentou caindo de uma montanha para colher a erva rara que curaria seu paciente. Quando for votar em um presidente – a tarefa mais difícil – escolha um que perdeu, mais que o dedo, o cérebro, que quanto menos pensa um líder mais é livre pra pensar quem vive no país que ele governa.
Voltando, entretanto, ao nosso assunto, o estimado Capitão Blake, ao contrário dos outros piratas, ao perder o olho não ficou mais cruel: deixou a profissão, mantendo apenas o título e o nome. Assumiu como missão de vida recuperar – como quer que fosse – seu olho direito. E partiu em sua mais longa jornada, mas talvez a menos aventureira e perigosa, que assim têm de ser os fatos em narrativa de mau autor.
Era inglês, como indica seu nome, e rico, como indicam a profissão e o cargo. Comprou uma pequena frota, constituída de nau e caravelas, contratou os tripulantes e partiu rumo à Suécia, onde, disseram-lhe, vivia o melhor dos médicos do mundo.
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