24 março, 2007

Conhecimento e depressão, um post sério

Sabe, cansei. Cansei de sair de casa e ser desafiado a responder "de onde viemos", "pra onde vamos", "qual o nosso objetivo na Terra" e outras paspalhices que algumas pessoas consideram altamente intelectuais e que não passam de desculpas para desenvolver uma depressão e poder se viciar em Zetron. Cansei de me dizerem que o mundo é uma prisão e que a única forma de se tornar livre é a morte. Isso é uma desculpa para transformar o seu futuro suicídio em uma atitude forte, nobre, em busca da liberdade.

Não adianta responder às perguntas, qualquer resposta será igualmente válida, porque é impossível convencer essas pessoas de qualquer coisa e porque realmente é impossível responder com objetividade a todas elas. Essas perguntas deveriam torturam tanto o homem quanto "quem veio antes, o ovo ou a galinha?". São perguntas sem resposta e devem ser tratadas assim. Até porque, mesmo que respondamos, isso não alterará em nada os fatos de que viemos, de que estamos aqui, de que inevitavelmente morreremos e de que vivemos de acordo com nossas vontades.

Chamar a vida de prisão é pura idiotice e aqueles que dizem isso deveriam ser internados. Se a vida fosse, de fato, uma prisão, provavelmente ele não poderia dizer tudo o que diz, fazer tudo o que faz. Se ele considera que uma prisão é um lugar onde não se pode voar ou ocupar três lugares ao mesmo tempo (ou três ocuparem o mesmo lugar ao mesmo tempo), bem, de fato, estamos presos. E não há nada que possamos fazer contra isso.

Se é assim, então porque se preocupar? Estamos presos, presos ficamos. Ao lugar de onde viemos não voltaremos e, aonde vamos, iremos de qualquer forma. O objetivo é algo mais fácil de responder: se for verdade que todos têm um objetivo pré-traçado, é igualmente verdade que seu objetivo está sendo cumprido aos poucos, com o passar de sua vida. Caso contrário, as pessoas não têm um objetivo pré-estabelecido e a pergunta se dilui como uma gota de leite em um copo de água.

Acho que essas perguntas não eram tão comuns no segundo grau. As pessoas eram mais reais, mais vivas, no segundo grau. Na faculdade as pessoas sentem atração pela morte, pela tristeza, pelas armadilhas da retórica e se rendem a elas. Lembro que no segundo grau a maior preocupação da maior parte dos estudantes era que curso fazer na faculdade. Nenhuma dúvida existencialista, nenhuma questão sem resposta. Não entendo como essas pessoas mudam tanto quando saem da escola para a universidade. E, pior: elas provavelmente mudam achando que estão se tornando melhores. Como se ser triste fosse um bem.

Há uma inversão de valores quando se muda de uma escola para uma universidade; uma inversão ruim, mas estimulada por algo bom. As pessoas buscam mais conhecimento na universidade, e isso não é ruim. Mas buscam pelo lado errado, pelo lado canastrão, talvez por despreparo intelectual, por não conseguir conceber a realidade como real, por não admitir que algumas perguntas são estúpidas. E isso é culpa dos professores, claro. Os professores que dizem que toda pergunta deve ser feita, que não existe idiotice na universidade.

Há perguntas que não precisam ser feitas, que devem ficar veladas, como a caixa de Pandora e o fruto da árvore proibida. Há conhecimentos inalcançáveis, e o homem não precisa ir atrás deles, a não ser que deseje uma depressão, o que também é comum nos cursos superiores.

Mas acredito que a depressão não é desejada antes de fazer essas perguntas, é desejada depois. Alguém se faz essa pergunta e, por não conseguir respostas, deprime-se. E trata essa depressão como normal, fruto da busca pela sabedoria. Trata como necessárias as depressões para o conhecimento, como se todo o entendimento possível fosse fruto de empirismo desenfreado, de experiências boas e ruins, simplesmente desprezando a lógica como busca inicial por respostas possíveis e por respostas prováveis. "De onde viemos?", perguntam-se, e começam a responder de inúmeras formas, infinitas tentativas sem sucesso. Depois, a depressão. Se, ao se questionarem sobre isso, simplesmente parassem para pensar "o que a resposta a isso vai mudar?", "existe uma resposta a essa pergunta?", não se entregariam com tanta facilidade a essas perguntas fúteis, muito mais fúteis que perguntar a marca da camisa do seu amigo.

Se os professores não estimulassem tanto os seus alunos a se questionar na faculdade, ou se os próprios alunos continuassem, como no ensino médio, a vaiar aqueles que fazem perguntas idiotas de falsa profundidade, o receio de perguntar continuaria na faculdade, e apenas as perguntas realmente importantes seriam feitas (ou, no mínimo, apenas elas teriam valor). Mas os professores desequilibram a balança do jogo, porque o aprendizado é uma aplicação da teoria dos jogos: "se eu aprendo isto, ganho no mercado (ou como pessoa, ou como intelectual), se aprendo aquilo, não ganho" é o pensamento inicial de um aluno, mas os professores insistem que todo conhecimento é válido, útil e deve ser buscado. Em busca de um sentido para a vida, os alunos mais volúveis se entregam à depressão. O sobrevalor dado aos professores é culpado por isso.

Professor não é mais inteligente que o aluno, na maior parte das vezes. Professor dificilmente sabe mais que o aluno, e é uma boa surpresa encontrar algum que saiba. Mas os professores são valorizados como se soubessem sempre mais, e como donos da verdade. Isso permite que eles, artificialmente, empurrem a balança do jogo para baixo, pesando mais que os ganhos com as respostas e criando uma multidão de pessoas despreparadas com ar intelectual e Zetron no bolso.

Cansei.

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