Ser tão engraçado em drama quanto Molière;
Ser tão engraçado em filmes quanto Woody Allen;
Ser tão engraçado em música quanto Tom Lehrer.
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Falando em Molière, nunca concordei tanto com uma introdução:
Les femmes savantes, esta peça de Molière, tem sido levada no Brasil com o grosseiro título de As Sabichonas. O mínimo que se pediria na tradução é preservar a ambigüidade. Se você atribui a uma mulher, ironicamente, ser erudita, sempre poderá se dirigir a ela, elogiosamente: "Aceite minha admiração, madade, a senhora é uma admirável erudita". Poderá o leitor encarar a mesma senhora dizendo-lhe "Não conheço sabichona igual"? E tua graça, Molière?
Se a tradução começa com esse título - jamais contestado, aliás, exceto pelo orador que vos fala - imaginem aonde vai o resto.
Mas a falta de percepção de títulos - não é implicância intelectualóide, é impaciência com grosseria que já mostra a qualidade do resto a seguir - é espantosa. A peça, supervalorizada, de Tennessee Wiliams, Cat in a hot tin roof, que traduzi, corretamente, como Gata em telhado de zinco quente, tem sido levada sempre, no Brasil, com o título nonsense de Gata em teto de zinco quente.
Sem se advertirem, tradutores, resenhistas, atores e diretores, de que não se trata de um erro trivial. É um erro ridículo. Gata em teto é, na melhor das hipóteses, um lustre vagabundo, de mau gosto. Sem falar que eu nunca vi, em casa burguesa - como é a da peça - um teto de zinco. Telhado, sim. E é nesse telhado que saltita (o título sugere o saltitar nervoso de uma gata em cio incontido), a gata. "Sencillo, non, mamita?"
Pra só ficar nisso e não ficar só aí, há pouco - escrevo em novembro de 2002 - lançou-se no Brasil o último filme de Stanley Kubrick, com o título provocador de Eyes wide shut. Pois bem, não sabendo traduzir o título, ou nem sequer percebendo o que estava escrito, os tradutores colocaram em português: Olhos bem fechados. Kubrick que, prudentemente, tinha morrido meses antes, mesmo assim deu três voltas no túmulo. O que ele queria dizer era: Olhos escancaradamente fechados.
Millôr, para "As eruditas".
Eu deixo aqui uma observação que, melhor ou pior traduzido, o filme de Kubrick não deixa de ser péssimo.
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