29 abril, 2007

Folhetim

Eu poderia começar este post perguntando o que Laurence Sterne, Lima Barreto, Charles Dickens, Daniel Defoe e Machado de Assis têm em comum, mas o título, parece-me, tornaria óbvia a resposta. Resolvo, portanto, começar com uma pergunta diferente: "Por que não existem mais folhetins?" ou, se minha pergunta for impertinente e a resposta a ela for "Há, sim, folhetins pelo mundo", adianto-me e transformo noutra pergunta, esta, certamente, constatação mais fiel da realidade: "Por que não existem folhetins no Brasil?".

O folhetim, pelos nomes que exibe, é a melhor forma de se escrever um romance; por isso, quando e se eu tiver um jornal, nele haverá um encarte, todo domingo, com um capítulo de uma história. E, assim, surgirão os futuros Oliver Twists brasileiros, os próximos Robinson Crusoés, Tristam Shandies atrás de Tristam Shandies.

Não sei quanto a vocês, mas eu compraria o jornal todos os domingos se nele viesse um Christmas Carol, uma Moll Flanders, ou um pedaço deles. E todos os leitores do meu jornal aguardariam o domingo, dia em que não ligam para a programação da TV, para acompanhar o crescimento de um jovem-escritor-cheio-de-promessas-e-esperanças. E, mais do que isso, as pessoas ansiariam pelos domingos para saber o que vai ocorrer com o personagem, como anseiam pelo próximo capítulo da novela.

Outra vantagem do folhetim é que os críticos o considerarão um gênero menor, e apenas quem importa vai ler: apenas aqueles de bom gosto. E, mais uma qualidade que o folhetim costuma ter, sua história é cheia, recheada de altos e baixos, de, perdoem-me as palavras, venturas e desventuras. As histórias dos folhetins não podem ser monótonas, e as pessoas passariam a ler toda semana. Não exagero que um bom folhetim pode fazer o Brasil evoluir a uma Inglaterra do século XVIII.

E o sucesso do meu folhetim traria outro, e outro, e outro, e logo teríamos dezenas de Daniel Defoes e milhares de pessoas sonhando em ser escritoras de folhetim. Depois também os jornalistas perceberiam como é ruim o que chamam de "estilo jornalístico" ecomeçariam a relatar os fatos em prosa leve, rápida, quase como contos, e quando isso acontecesse talvez eu lesse meu próprio jornal.

P.s.: Naturalmente haveria efeitos colaterais, como um ou dois Josés de Alencar, mas com o tempo ninguém mais ligaria pra eles, porque haveria coisas boas ocorrendo simultaneamente.
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Outro p.s., mas com outro assunto: quem se interessou pelo Púcaro Búlgaro pode baixá-lo aqui. Eu gostei muito.

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