14 abril, 2007

Olha a cabeleira do Voltaire

Há textos que nos valem mais que biografias, pelos quais descobrimos cada pedaço da vida do autor, cada detalhe de seu rosto, cada cicatriz e casca de ferida. Textos que mostram o suor escorrendo no rosto do escritor, suas banhas, todos os seus excessos, quando ele os tem, mas também revela beleza, nobreza, quando são essas as principais características do escritor.

Eu, por exemplo, nunca li De Profundis, mas imaginava o rosto de Oscar Wilde muito antes de ver fotos suas – aquele cabelinho comprido e a arrogância controlada do nariz de Wilde ficaram bem evidentes quando li “O retrato de Dorian Gray”, primeiro livro que li dele. O rosto todo meio arrogante, na verdade, e ar, hum, (eu ia dizer blasé, mas não, não) entediado. Ensoberbado, mas com motivos para isso. Wilde era bom, sabia que era bom, o melhor.

Assim como descobrimos coisas boas, no caso de Wilde, é possível descobrir coisas que o escritor tenta esconder de toda forma, como a verruga e as espinhas na bunda de Jorge Amado.

Notar isso, para mim, gerou uma curiosidade sem tamanho: como meus leitores que não me conhecem pessoalmente me enxergam? Teria eu um furúnculo no rosto ou feridas nos joelhos que não conheço?

Nenhum comentário: