15 junho, 2007

Cada blogueiro um Godard

Faz um tempo já que tenho notado, mas sempre tive vergonha de escrever sobre isso - um medo sem tamanho de ouvir todos vocês gritando “Clichê! Clichê!” no meu ouvido enquanto durmo abraçado ao meu travesseiro e sonho com o último episódio de House -, pois vocês devem ter percebido também como os blogs são circulares em seu público.

É difícil haver leitores não blogueiros, pode reparar. Parece que todos os que querem ler pela Internet têm um blog, todos os leitores são diretores de cinema que só agradam a outros diretores de cinema, mais ou menos como Godard - podem notar que só pessoas com a vida dedicada ao cinema conseguem ver mais de quinze minutos de um filme dele sem fugir gritando "Aaaaaa!" com o maxilar imóvel e escancarado, os lábios rachados de horror e a língua balançando na enorme cavidade, com pequenas gotas de cuspe saltando da boca e regando os canteiros bem ornados do lado de fora da sala de exibição. Compare-se com Spielberg, que agrada aos não diretores, e têm-se uma divisão entre os bons e os maus blogueiros, mas ao contrário.

A diferença entre blogs e cinema é que os bons blogueiros costumam ser - eu acho - aqueles que agradam principalmente aos próprios blogueiros. Se formos ver, os blogs com público "normal" costumam ser extremamente ruins - vejam os dez mais visitados do Brasil e chorem até secar os olhos da alma, porque seus olhos físicos não darão conta de tantas lágrimas. Sinceramente, não sei se é por causa da situação incipiente (ui, incipiente, nossa!) do meio ou porque estou nele, mas acho que os blogs com leitores blogueiros são melhores que os filmes com público cinéfilo. Spielberg é muito melhor que Godard, mas o Interney (não vou pôr link, tenho vergonha) não é, nem de longe, um Rodrigo de Lemos (aqui eu ponho link, vale a pena).

Veja bem, aqui eu ponho em cheque minha própria opinião, porque realmente isso me intriga. Sinto que sou obrigado a aceitar uma das duas formas pra poder soar consistente e, quando for confrontado, não cair em contradição: ou Spielberg é melhor que Godard e, portanto, Interney é melhor que Chá das Cinco, ou Godard é melhor que Spielberg, e o Rodrigo de Lemos continua melhor que o Edney. Porque dizer que o Rodrigo de Lemos é melhor que o Edney é confiar na crítica especializada (a minha e a de outros blogueiros), e isso deve me levar a aceitar a crítica especializada do cinema como válida; dizer que Interney é melhor é acreditar no julgamento do povão, com quem concordo quanto ao cinema.

Na situação atual, sou uma espécie de Frankenstein (o monstro, não o doutor), com cabeça de crítica e corpo de povão (ou o contrário, que seja, é só uma metáfora em que as partes não importam, mas a imagem de cabeça de crítico e corpo de povão me agrada mais) (e aqui vou colocar mais parêntesis pra confundir o leitor e deixá-lo pensando que esse parágrafo teve um final e que ele se perdeu por causa do grande número de observações desnecessárias que eu fiz, e não porque realmente é um trecho vazio. Parece mais honesto ser desonesto; mais divertido é, tenho certeza).

Ou posso simplesmente assumir que a crítica do cinema é burra e a dos blogs é inteligente. Parece mais cômodo, mais certo, e não precisa que eu mude de opinião.
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Pessoal, provavelmente vou reduzir a freqüência de minhas postagens; estou começando a escrever um romance e quero terminar em uns seis meses.

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