13 outubro, 2006

Se Oscar Wilde fosse brasileiro

"'My own garden is my own garden,' said the Giant; 'any one can understand that, and I will allow nobody to play in it but myself.' So he built a high wall all round it, and put up a notice-board.

“TRESPASSERS
WILL BE
PROSECUTED”

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Vendo isso, o líder dos sem-terra viu que o jardim ficou ocioso e, como era grande, foi considerado latifúndio improdutivo. Os sem-terra invadiram o belo jardim, derrubando o grande muro que o gigante construíra, armaram suas tendas de lona preta que tampavam o sol, matando o verde gramado e as belas flores. Nessas tendas eles ensinavam a seus filhos a história dialética e, ao lado delas, plantavam feijão e mandioca para subsistência, o que transformou o jardim numa enorme plantação de cor verde escura e pouco agradável.

Derrubaram as pereiras em plena primavera, quando suas flores se mostravam mais belas que nunca, para dar lugar a algumas goiabeiras e dois ou três pés de laranja. Então eles reconstruíram os muros que cercavam o jardim, tendo o cuidado de alargá-los o mais que a quantidade de tijolos permitia, pois também os jardins vizinhos foram considerados latifúndios por extensão.

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A esta altura, Wilde incluiria Deus, um rouxinol ou pintarroxo, ou mesmo um menino mirrado que beijaria os sem-terra e os levaria ao arrependimento; mas, se ele fosse brasileiro, incluiria a polícia para prender os sem-terra em operação cruenta e duas ou três palavras desnecessárias contra a atuação policial. Mais tarde, ao fim do conto, a justiça permitiria que os sem-terra ficassem com a terra e o Gigante jamais poderia se arrepender do que tinha feito às criancinhas.

FIM

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