
Descobri este mês que gosto do ritmo.
Ele nascera com guelras em seu pescoço e, disse-lhe sua fada madrinha quando completou três meses, ia se tornar peixe ao completar oito anos de idade. Isso, no entanto, não o incomodava, pois sempre teve como passatempo preferido nadar e, se ele se tornasse peixe, poderia nadar todos os dias, o dia inteiro. Seus dedos eram ligados até a metade, nas falanginhas, como fossem dedos de alguma ave aquática. Suas mãos eram extraordinariamente grandes para uma criança na sua idade e seus pés eram praticamente planos. Sentia-se na água mais em casa que em terra, até que, aos sete anos, seus pais perceberam que se ele fosse morar na água não teriam mais o mesmo contato com o filho que amavam de todo o coração e começaram a chorar tanto que o menino nadou em suas lágrimas que escorriam porta afora torrencialmente. Foi mesmo difícil para ele manter-se na sala de casa, pois a correnteza era forte e as lágrimas espessas como óleo.
A fada madrinha, sempre prestativa, disse aos bons pais que ele poderia morar num aquário dentro de casa e que seus pais poderiam levá-lo em uma sacolinha quando viajassem no natal para a casa da tia Joquinha, e nesse momento, de tão felizes que ficaram seus pais, suas lágrimas correram no sentido contrário, quase levando o menino para o interior dos olhos de sua mãe. O menino tentou, depois da confusão, argumentar que não caberia numa sacola, mas sua fada disse que arrumaria uma sacola bem grande em que ele coubesse com alguma folga, e transparente, para que ele não perdesse o contato com o mundo. Dessa forma, todos ficariam satisfeitos, pois o menino moraria na água, seu hábitat ideal, e seus pais continuariam a vê-lo todos os dias de sua vida, na sala de casa ou na casa da tia Joquinha.