30 maio, 2007

Eu sempre senti falta de algumas coisas que provavelmente nunca existiram. Provas de amor, por exemplo, seriam muito bem-vindas à realidade. Imaginem a situação de um rei que se apaixona por uma camponesa:

- Meu bem, eu te amo sobre todas as coisas! Te cobrirei de ouro e pérolas, tuas mãos serão as mais adornadas de todo o reino! Em nossa cama haverá os lençóis da seda mais suave e leve que o homem pode fazer e as bençãos divinas cairão sobre nós até o último dos dias! Vem morar comigo no castelo, sejamos rodeados de felicidade infinita!

- Sou pobre e camponesa, mas só assim posso ser feliz. Não sei viver num mundo cheio de regras como a corte. A teu ouro, tuas pérolas e teus adornos de mão prefiro o balde d'água, a lenha e o machado. À seda que me ofereces prefiro as estrelas que me cobrem à noite com seu manto luminoso. E as bençãos, que não dispenso, pois são sagradas, podem igualmente nos ser concedidas aqui, pois Deus não difere palácio de choupana. Vem tu morar comigo. Amar-me na corte, com lençóis e jóias, adornada como uma sala! Qual, então há mérito nisso? Não seria eu a mais vulgar das mulheres se te aceitasse a proposta? Vem tu e me ama em minha choupana!


Então o rei abdicaria do trono em nome de seu irmão mais moço e iria morar com a camponesa na choupana à beira do rio, onde viveriam de pesca, caça e verduras, e o rei aprenderia a viver como camponês, recolhendo desastradamente a lenha no começo, causando risos em sua amada, que o ensinaria delicadamente e pediria desculpas por se rir dele.

Infelizmente, isso só existe em livros e filmes (e por algum motivo me parece que, apesar de ser completamente lindo neles, no "mundo real" quem fizesse isso ia ser chamado de louco, e talvez internado num sanatório sem janelas. Amar não é mais importante que pérolas nos dias de hoje; nunca foram, na verdade, mas eu gosto de acreditar que antigamente as pessoas faziam sacrifícios por amor).

É disso que eu sinto falta: da possibilidade de sentir de verdade, de amar como é certo, como todos assumem ser certo, mas como ninguém ousa amar. Ah, Ibsen, como falta ousadia no mundo!

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