Ninguém vai discordar de mim se eu disser que ninguém é capaz de saber tudo. Absolutamente tudo, quero dizer. Tudo sobre todas as coisas. Essa é uma característica atribuída, geralmente, a Deus, por inalcançável a qualquer mortal.
Só há uma coisa a se deduzir daí (na verdade, uma dedução um pouco forçada, uma conclusão mais indireta, que, suspeito, não vai incomodar vocês, e, se incomodar, desculpem-me): todo o conhecimento que existe está dividido entre todas as mentes humanas, em proporções não necessariamente semelhantes, e sobre todos os assuntos e sob todos os ângulos. Há pessoas, entretanto, que querem que saibamos de tudo o que acontece na favela ou na periferia, como se esse fosse algum tipo de conhecimento superior - a metafísica das favelas, a teologia da pobreza. A eles não importa se você entende mais de política ou de desenhos animados ou de Racine, você será sempre alienado, até saber de toda a realidade sofrida da favela, até compreender a cultura da periferia.
A alienação é uma coisa tão absoluta para essas pessoas como as outras coisas são relativas, e o alienado é sempre você, porque você, habitante de Jundiaí, não se importa com o que os traficantes do Rio de Janeiro têm feito com os moradores da favela.
Tudo bem, esse tema tem um apelo humano, um apelo sentimental, mas algumas pessoas acham muito mais humano observar pássaros que dedicar seu tempo à biografia de Fernandinho Beira-Mar. Se essas pessoas estão certas não posso dizer, mas eu, sinceramente, concordo com elas.
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