13 maio, 2007

O melhor para poder crescer

Sei que não sou a pessoa mais indicada pra falar disso, afinal, como estudante de jornalismo, treino pra não ser a pessoa mais indicada pra falar de qualquer coisa. Mas teimo em falar, porque, afinal, é isso que um jornalista faz: falar de coisas que outros saberiam dizer melhor. Que seja.

Sempre me surpreendo, por mais que se repita, por mais que todo o mundo me exiba isso com mais clareza que seria natural exibir, com a completa burrice de algumas pessoas. São pessoas que não deixam de mostrar certa prepotência quando falam sobre tudo aquilo de que não entendem. Isso é comum principalmente entre os jornalistas e os professores universitários - duas classes que, unidas, resultam em algo como uma pessoa que acha que a leitura pode tirar um país do subdesenvolvimento e que teria coragem de dizer isso para uma turma de alunos estúpidos que concordariam com ele.

E o que me choca, então, se todos são de fato estúpidos? É que, prepotente ou não, não me considero estúpido. E não acho que seja possível que alguém leve a sério a existência de uma turma inteira que ache que a leitura pode melhorar a qualidade de vida.

Isso me irrita. Irrita porque essa pessoa insinua que temos, ali, uma turma de elevada produção intelectual e que não há analfabetos na turma, que ninguém escreveria "João i Pedro é legal", mas eu sei que escreveriam. Sei que ninguém ali hesitaria em escrever "A leitura é a saída para o Brasil melhorar", acreditando em tudo o que os professores da faculdade lhes disseram. Essas pessoas nunca pararam pra pensar que o que o professor Everaldo ensinou podia estar errado e que não se perde tempo lendo quando todos só se preocupam em comer.

E não se surpreendam, meus amigos, se o tipo de gente que acredita nesse lixo for considerado algum dia o "melhor alguma coisa": a Míriam Leitão foi. A Míriam Leitão deve acreditar no Keynes, no controle de juros, no cálculo econômico com variáveis do tipo "satisfação do povo" ou "felicidade da nação", medidas no sistema hexadecimal (aquele que, entre o nove e o dez, tem A, B, C, D, E e F) e com peso três elevado a pi e, naturalmente, no poder dos livros como salvação do mundo.

Eu não acredito nisso, não sou a pessoa certa pra falar disso, e acredito que os jornalistas deveriam ser contratados pra ficar calados. Mas não me calo, não sou jornalista ainda: essa crença vem de uma inversão de tempo, eu acho. Quando as pessoas têm algum tempo ocioso, quando elas podem comprar um livro e lê-lo sem ter que parar de comer pra isso, elas começam a ler. Um país que lê mais começou a ler a partir do momento em que ficou bem economicamente, e não foi a leitura que o melhorou, foi o trabalho. A leitura é, em termos mais claros, desperdício.

Os políticos do Brasil, em vez de incentivar a leitura, portanto, deveriam ficar calados enquanto as pessoas trabalham, sem confusão, decidindo o que é melhor pra elas - que geralmente não é leitura. Se eu pudesse passar toda a vida sentado numa cadeira comendo pastéis de nata e deitado com a Milla Jovovich de um lado e a Scarlett Johansson do outro, não leria um livro jamais. Só se lêem livros como alternativa ao tédio da má programação televisiva.

E mais: livros não geram conhecimento. Livros são conhecimento gerado, pronto, mastigado, ao dispor de qualquer um que queira ou precise utilizá-lo. Essa história de que livro gera conhecimento é outra mentira que espalham a fim de que o povo deixe de trabalhar e vá ler um livro, sabe Deus pra quê.

O problema é que eu não percebi bem ainda de onde vem esse fetiche por livros, mas suspeito que seja algum lobby dos intelectuais que acham que o trabalho físico é degradante. Degradante, eu digo, é um mundo sem pastéis de nata. E pastéis de nata não são feitos por intelectos superiores que citam A Ilíada, são feitos por mãos delicadas que sovam a massa e preparam o recheio.

P.s.: Resisti a digitar esta notinha aqui, mas fiquei com medo de todos me chamarem de chato e burro e decidi falar: essas observações só são válidas no curto prazo, que é o que importa mais para as pessoas de um país em que o trabalho rende pouco. Pronto, falei. Desculpem-me, espero não perder a sua clientela. Voltem sempre, abraços. E feliz dia das mães.

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