Na verdade, acho que eu não tenho nada pra postar aqui, mas eu gosto de postar, é divertido. A professora pediu uma resenha que destacasse "o lado multicultural" de Amores Expressos, nos moldes de Stuart Hall. Tentei fazer um texto que não parecesse chato.
Amores Expressos
O filme “Amores Expressos”, de Wong Kar-Wai, é uma grande mostra de multiculturalismo: apesar de ser chinês, o diretor renegou suas origens e decidiu fazer um filme que mostra como os orientais são mais idiotas que os ocidentais. Culpa da assimilação da cultura ocidental por Kar-Wai, que nasceu em Xangai, mas foi para Hong Kong quando tinha cinco anos, onde viveu sem dominar o idioma cantonês até os treze, numa completa demonstração de repúdio à cultura local.
Como ele não usa um roteiro fixo para seus filmes, eles são realmente o que parecem ser: uma bagunça completa, em que ninguém consegue identificar o ápice (“Pessoal, a história é por aí, podem atuar como quiserem” não parece a melhor forma de dirigir um filme). Mesmo assim, meu coração me dizia que eu precisava gostar daquele filme se eu quisesse fazer uma boa resenha. Eu precisava, mas não consegui, meu cérebro bloqueou as poucas tentativas de considerar aquele um filme médio, e daí deriva a completa vaguidão deste texto – que não deixa muito a dever para o filme, que muda de foco sem aviso, tornando-se um outro filme, independente do primeiro.
Mas isto não é uma resenha do filme – ah, não!, e se fosse não seria nem um pouco elogiosa –, é uma resenha do conteúdo multicultural que ele supostamente apresenta (foi dito antes de o filme ser apresentado que ele seria altamente multicultural, mas veja você: tudo o que se nota de multiculturalismo nele são aviões provavelmente alemães ou canadenses, anti-propagandas descaradas da Pepsi, da Skol e da Gradiente, que exibiram produtos de seus rivais Coca-cola, Sol e Phillips no filme, na intenção de desmoralizar essas empresas, e uma música americana – California Dreamin’, do “The Mamas and the Papas”).
Talvez, na realidade, o filme seja tão hermeticamente oriental que eu tenha sido incapaz de entender exatamente o que ele queria, e o multiculturalismo, nesse caso, fica apenas na relação do espectador ocidental com o filme – uma relação não muito amistosa. Por exemplo: é engraçado para um ocidental que, ao ser abandonado pela mulher, passe-se a comer apenas abacaxi em compotas. Sério, isso está no filme, e com tom de tristeza. Abacaxi deve ter algum sentido especial para os orientais, fruta da tristeza ou coisa que valha. Para um ocidental parece meramente patético.
Além disso, outra coisa multicultural que se percebe é que as legendas parecem nos enganar o tempo todo, pois resumiam em pequenas frases de cinco palavras os doze minutos do enfadonho monólogo inicial. Ah, e as tentativas de comédia! Os orientais parecem viver num mundo que não conheceu Freddy and Frederika, de Mark Helprin, ou qualquer livro do Wodehouse, ou, falando em cinema, A vida de Brian, do Monty Python, e se prende a um humor meio forçado e não muito engraçado (mais ou menos o humor que crianças da sexta série usam em seus trabalhos escolares) da repetição de situações que até nos fazem esboçar um sorriso uma vez, mas ouvir que “o sabonete está mais gordo”, “o urso [que na verdade é um tigre] está mais alegre”, “a casa está chorando” várias vezes fica entre o simplesmente infantil e o completamente ruim – num ponto central entre esses dois pólos. E o personagem é só idiota de não notar que seu urso foi trocado, porque não há tristeza que cegue alguém tão completamente, e, se houver, só ataca os idiotas.
Permita-me voltar agora ao primeiro parágrafo de meu texto. Eu disse que o filme mostrava como os orientais são idiotas, e sinto que os muitos exemplos que dei ainda não provaram isso (comer abacaxi por trinta dias, pensar que a casa está chorando e precisar de doze minutos pra traduzir uma frase em seu idioma não são provas suficientes para alguns). A prova derradeira é que os personagens brincavam de avião enquanto estavam na cama. Provavelmente os orientais não praticam sexo como nós, talvez não transem quando estão sozinhos em casa, na cama, mas, sabe Deus, no meio da rua, enquanto toca California Dreamin’ e milhões de pessoas passam de lá pra cá e olham a beleza do ato sexual. Agora, brincar de avião não se faz em público. Talvez o povo ache que eles estão alegres demais e os condene por isso.
Pronto, cheguei forçadamente num ponto que queria: a alegria. O único aspecto do filme que desperta alguma reação positiva é quando a menina protagonista chinesa (a que não usa peruca) ajuda o jovem protagonista chinês (não me lembro se o policial ou o outro, está tudo embaralhado na minha cabeça) a superar a tristeza por que passava por ter sido abandonado pela mulher. A menina que ouve California Dreamin’ é a única pessoa feliz do filme, e isso me evidencia que a alegria é muito ocidental. Sabe aquele negócio de “Alegría Macarena”, “Bahia, terra da alegria”? Verdade. Ninguém é feliz em Hong Kong, a menos que ouça músicas americanas e dance desengonçadamente enquanto lava a casa de algum quase estranho. O multiculturalismo de “Amores Expressos” prova que, se não for no pingue-pongue, o ocidente dá de dez a zero no oriente (vide Spielberg, Scorsese e a Copa do Mundo de Futebol).
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