06 outubro, 2007

De como nasceu uma flor no nariz do Capitão - II

Parte I
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A viagem terminou como começou: tranqüila. Porque assim são as aventuras, começam sempre na metade do caminho, quando voltar atrás e ir adiante representam os mesmos riscos e desesperanças. Se ainda no porto de Liverpool o Capitão Blake se deparasse com uma feroz tempestade ele, como humano, desistiria de sua empreitada e aportaria novamente, ciente que estaria dos riscos ficar não só com um olho a menos, mas também sem a vida, o que deixaria muito tristes todos os seus familiares de Porthsmouth (especialmente sua sobrinha, Nicole, por quem nutria afeto excessivo e a quem dedicava todos os seus saques em cartas privadas, como depois se soube por suas correspondências.

Detalhes sobre o meio da viagem poderiam conter embates com monstros marítimos, ondas gigantescas, naufrágios, mas só ocorreram alguns poucos enjôos na tripulação, duas febres com delírios e, de fato, dois embates com criaturas míticas marinhas, que provaram não ser míticas, mas se provaram marinhas. Uma sereia, derrotada pelo arpoeiro, que tinha noções de música e, ao ouvir seu canto, reclamava da coloratura e dizia o tempo todo que semitonava, o que fez a sereia explodir, e uma lula-colossal miniatura, mas com jato de laser saindo de suas ventosas, super-força e super-velocidade, no que deu bastante trabalho pro limpador de convés, que a capturou com a vassoura de "pêlos longos e inquebráveis". Infelizmente o espécime fugiu pelo chão do barco, em que fez um buraco até alcançar o mar. Felizmente não atacou novamente, pois seria difícil para o limpador de convés capturar a lula, varrer o chão e tampar o buraco com o dedo ao mesmo tempo - as duas últimas tarefas já eram suficientemente desafiadoras, já que o convés de uma nau é bastante grande e seu casco fica a vários metros de distância do chão do convés, o que exigia incrível elasticidade do limpador de convés, que esticou seu dedo mínimo do pé por alguns metros e seus braços por outros tantos.

Esses dois inconvenientes acabados, a segunda metade do caminho foi rápida, embora com o vento em proa, o que exigiu grande trabalho dos remadores - pois o Capitão Blake morria de preguiça de recolher as velas. Aportaram em Estocolmo dia 06 de outubro de 1637.

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