04 setembro, 2008

Os hábitos dos ninjas e sua contribuição para o mundo moderno

O maior defeitos dos inconvenientes é não sabermos jamais o que acontece a eles depois que nos incomodam. Numa viagem noturna, por exemplo, alguém que conversa aos berros com outra pessoa vinte poltronas atrás, terminada a viagem, simplesmente sai do ônibus (e, consegüentemente, da sua vida), sem que você veja o que aconteceu a ele e seu amigo.

Não podendo me conter de curiosidade, assim que saí de uma dessas viagens, que havia feito de propósito para isso, dando a mim mesmo alguma ocupação nas férias, depois de oito horas de gritos, eles seguiram caminhando rumo ao desconhecido.

Depois de dobrar a primeira esquina, eu logo atrás, os diabos resolveram que sairiam de carro, com o porta-malas aberto e som muito alto, pra incomodar os namorados que escutavam grilos à beira-rio, a água batendo suave nas pontas dos dedos.

O funk começou, e os namorados logo perceberam que duraria tanto tempo quanto eles pudessem gastar ali. Fugiram, atitude natural diante dos inconvenientes que impede que nós os conheçamos a fundo nossos inimigos - e que eu, com muita força de vontade, estava combatendo.

Depois disso, uma série infinita de absurdos - na igreja, celular; no cinema, cartola; a mão no nariz no restaurante, os pés sobre a mesa na visita ao amigo, o arroto após o jantar, o ronco enquanto dormiam, ladeados por outras centenas de inconvenientes - talvez a maior barulheira desde a invenção do Death Metal.

Começava a me cansar dessa pesquisa, que não me rendia frutos e só aumentava meu desprazer, quando o sol raiou, e a aurora trouxe consigo pássaros, conversas matutinas sem escovar os dentes e, surpreendentemente, ninjas.

Ocorre que, apesar de sua incrível capacidade reprodutiva, os inconvenientes são presas naturais dos ninjas.

Em poucos minutos, a fumaça das kemuridamas ocupava todo o céu e a terra. Centenas de inconvenientes respiravam a poeira de dezenas de ninjas.

Gritos se seguiram e, quando a fumaça baixou, Kunais estavam cravadas em alguns peitos e testas, shurikens faziam vazar sangue aos pescoços, algumas cabeças e troncos se separaram, atravessados por katanas e ninja-tos, bos atravessavam seus corpos do início ao fim do sistema digestivo. Estavam mortos todos eles, incluindo os dois que me importunaram no dia anterior. Em pouco tempo descobri que o tempo médio de vida deles é mesmo esse, 24 horas ou um pouco mais, quando dão sorte.

A cena, certamente a mais terrível da minha vida, me fez pensar que havia coisa pior que ser importunado infinitamente pelos inconvenientes. Mas depois me arrependi de pensar isso. Decidi domesticar um ninja, pra me acompanhar em todas as viagens.

Nenhum comentário: