06 fevereiro, 2007

If I had a hammer, I'd hammer all over this land

O desprezo pela profissão faz os melhores profissionais. Não creio que haja algum jornalista entusiasta da profissão que de fato escreva bem, como não há bons escritores que achem que escrever é a tarefa mais nobre do mundo.

Os bons jornalistas sabem que o jornalismo não é mais que médio, e por isso fazem algo melhor, sem presunção de auto-referência. O jornalismo é, aliás, quanto menos jornalístico, melhor. Quanto menos acadêmico, menos formal, menos "oh meu Deus, estou passando uma notícia, tenho que ser responsável", melhor. Os melhores professores são igualmente os que menos são professores, e eu não confiaria num advogado que acha que ser advogado é viver no paraíso.

Esse é, no fim das contas, o problema dos políticos: eles gostam de ser políticos, acham que sua profissão é nobre e coisas assim. Os políticos menos desnecessários são aqueles que desprezam a própria profissão, que conseguem enxergar a mediocridade de exercer um cargo cujo salário é tirado de pessoas que o odeiam e que se envergonhem por isso.

Para os profissionais engajados, tudo parece martelo para seu prego; aqueles que desprezam o que fazem, na verdade, vêem a real dimensão de sua profissão, e isso faz com que eles sejam realistas quantos aos efeitos de sua atividade (e, provavelmente, das demais): jornalista não dita nada no mundo, professores não criam o futuro, advogados não entendem tanto de justiça, historiadores não fazem ciência, políticos não ajudam em absolutamente nada, médicos não são responsáveis por todas as curas no planeta, sociólogos não mapeiam a vida em sociedade e determinam soluções.

Isso é que faz do desprezo a maior arma contra a mediocridade. Quem acredita que sua profissão é o máximo, não vai jamais fazer algo melhor. Vai apenas manter o ritmo e a qualidade do que faz. Quem sabe que sua profissão é medíocre se esforça para ser destaque, acaba se tornando bom e, de fato, importante.

Particularmente, duvido que Mencken visse o jornalismo como, sei lá, "uma forma categórica de mudar o futuro", e duvido que Wilde imaginasse a literatura como mais que a "arte de escrever", e duvido e Cole Porter via na música mais do que uma "porção de acordes que soam bem", e duvido que qualquer um que exerça sua profissão com o mínimo de senso de realidade veja a realidade como fruto de sua profissão.

Mas, meu Deus!, como estou chato ultimamente! Para não terminar tão chato assim, Debbie Reynolds cantando "If I had a hammer", que eu gostaria de pôr o link no título, se soubesse como.

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