04 fevereiro, 2007

A sua dimensão é a dimensão do seu sorriso

Na poltrona à minha frente vinha sentado um rapaz que não parava de se mexer, reclinar a poltrona e voltá-la para a vertical, falar só, bater palmas, subir e descer a cortina da janela e muitas outras coisas, como chamar ininterruptamente a aeromoça, pôr a mão na luz e abrir e fechar o ar-condicionado. Fiquei três horas imaginando se ele teria algum problema mental, como a Clarinha da novela, que é muito bonitinha, inclusive, ou se era de um interior muito interior e estava pela primeira vez vendo um avião.

Quando pousamos, ele viu uma menina de uns três ou quatro anos e começou a conversar com ela "nossa, como você ficou quietinha! Foi tudo bem? Correu tudo direitinho?". Imagino que se ela ficou quieta é porque estava tudo bem, mas ele não era astuto como eu, teve que perguntar. Várias vezes.

Ao me levantar, olhei para ele - matuto? down? Não. Gordo. O tipo do gordinho simpático, que conversa com qualquer pessoa, mesmo que não se queira conversar com ele. Que ajusta a luz conforme a vontade de quem se senta a seu lado, regula o ar-condicionado para o bem geral e usa camisas de cor laranja com listras horizontais, pra ficar mais gordo e mais simpático.

Eu acredito que a dimensão lateral da pessoa é a dimensão de sua simpatia. Os limites aceitáveis são, inclusive, amplos: de vinte e cinco a sessenta centímetros de distância entre os extremos esquerdo e direito da cintura. Abaixo do mínimo, a pessoa se torna antipática; acima dele, torna-se um sorriso gorduroso ambulante.

Nenhum comentário: