Me incomoda muito a mania de ver sexo/sexualidade em todos os cantos - tanto quanto deve incomodar a vocês essa minha recente mania de relatar meus incômodos (se não incomodar é porque vocês não têm senso crítico na leitura, e eu os agradeço imensamente por isso). Outro dia alguém sugeriu que Henry Higgins era gay e que, por isso, não se casou com a Eliza. Ora, por que ele seria gay? Eu não me casei com a Audrey Hepburn e nem por isso sou gay. Eu nunca comi a Monica Belucci, a Scarlett, a Charlize, a Milla Jovovich, como, acredito, o leitor também não comeu, mas isso não quer dizer que eu queira dar pro Brad Pitt, pro Tom Cruise, pro Jude Law. Mas parece que as pessoas só não desconfiariam da masculinidade do professor Higgins se, no meio do livro, ele falasse "Eliza, gostosa, deixa o papai aqui comer sua bundinha tesuda, neném".
Bem, eu consigo passar um dia inteiro sem pensar em sexo e admito que haja pessoas que consigam passar a vida toda assim - uma vida triste, talvez, setenta anos jogando damas, mas ainda assim uma vida, ainda assim setenta anos. Bernard Shaw inclusive fala no livro que Higgins é um solteirão convicto e isso é tudo. Não tentem psicanalisar o pobre personagem.
Imaginem vocês se todos os personagens começassem a correr atrás de mulheres só pra provar que são machos e, assim, não causar dúvidas nos leitores mais pervertidos: José Servo jamais se tornaria o Decano do Jogo, porque ia se engraçar com alguma Thelma de peitos muito grandes e se enfiar com ela para um motel pra fazer literatura moderna e Robinson Crusoé nem chegaria a embarcar, porque estaria em algum estábulo com uma Judith fazendo arte concreta na hora de zarpar.
De vez em quando, claro, é divertido ler uma cena de sexo, e não condeno quem as escreve. De vez em quando é divertido pensar em sexo, e até prazeroso, mas a literatura não deve ser um grande livro pornõ cheio de grutas úmidas e membros intumescidos.
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