08 junho, 2007

William Tell Contado Novamente

(Capítulos I, II e III)
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Capítulo IV

Discutindo o assunto na estalagem da cidade, a Glass e Glacier, os cidadãos chegaram à conclusão de que deveriam escolher três porta-vozes para explicar a Tell o que queriam que ele fizesse.

“Eu não quero parecer orgulhoso, de forma alguma,” disse Arnold de Sewa, “mas eu acho que eu deveria ser um dos três.”

“Eu estava pensando,” disse Werner Stauffacher, “que seria uma lástima ficar sempre mudando e remudando. Por que não escolher os mesmos três que foram mandados a Gessler?”

“Não que eu queira ser desagradável, de forma alguma,” disse Arnold de Sewa, “mas deve ser desnecessário lembrar ao honrado cavalheiro que acaba de falar que ele e seus igualmente honrados amigos não tiveram muito sucesso quando falaram com o Governador.”

“Bem, você também não teve!” vociferou Arnold de Melchthal, cujo dedo ainda doía e o deixava um pouco mal-humorado.

“Isso,” disse Arnold de Sewa, “eu dedico inteiramente ao fato de que você e seus amigos, por não usarem de tato, irritaram o Governador, e o deixaram sem vontade para escutar qualquer outra pessoa. Nada é mais importante nesses negócios que tato. Eis o que vocês querem – tato. Mas façam da sua maneira, não se preocupem comigo!

E os cidadãos não se preocuparam. Eles escolheram Werner Stauffacher, Arnold de Melchthal e Walter Fürst, e, tendo secado seus copos, os três marcharam montanha acima, rumo à casa de Tell.

Ficou combinado que todos esperariam na Glass e Glacier até que os três porta-vozes retornassem, para que eles ouvissem o resultado de sua missão. Todos estavam muito ansiosos. A revolução sem Tell seria quase impossível, e não era improvável que Tell se recusasse a ser seu líder. O pior de uma revolução é que, se ela falha, o líder é sempre executado como um exemplo para o resto. E muitas pessoas se recusam em ser executadas, ainda que isso dê um bom exemplo para seus filhos. Por outro lado, Tell era um homem bravo e patriota, e devia ser o único tão impaciente a ponto de tentar acabar com o jugo do tirano, qualquer que fosse o risco. Eles esperaram por cerca de uma hora, quando viram os três porta-vozes descendo a montanha. Tell não estava com eles, um fato que fez os cidadãos suspeitarem que ele tinha recusado sua oferta. A primeira coisa que um homem faz quando aceitou a liderança de uma revolução é vir e conspirar com seus companheiros.

“Bem?” disseram todos impacientemente assim que os três chegaram.

Werner Stauffacher balançou a cabeça.

“Ah,” disse Arnold de Sewa, “Eu já vejo o que é. Ele recusou. Vocês não usaram tato, ele recusou.”

“Nós usamos tato,” disse Stauffacher indignadamente; “mas ele não se persuadiria. Foi assim: nós fomos pra casa e batemos na porta. Tell a abriu. ‘Bom dia,’ eu disse.

“’Bom dia,’ disse ele. ‘Sente-se’

“Eu me sentei.

“’Meu coração está carregado,’ eu disse ‘e deseja falar com você.’ Eu achei essa uma forma elegante de falar pra ele.”

A companhia murmurou em aprovação.

“’Um coração pesado,’ disse Tell, ‘não vai ficar leve com palavras.’”

“Nada mal!” murmurou Jost Weiler. “Tell tem uma forma inteligente de dizer as coisas.”

“’Mas palavras,’ eu disse, ‘podem nos levar a façanhas.’”

“Elegante,” disse Jost Weiler – “muito elegante. Sim?”

“Para o que a resposta extraordinária de Tell foi: ‘a única coisa a fazer é sentar e esperar.’

“’O quê!’ eu disse; ‘sofrer no silêncio o insofrível?’

“’Sim,’ disse Tell; ‘para homens pacíficos a paz é alegremente garantida. Quando o Governador perceber que sua opressão não nos causa revolta, ele vai se cansar de nos oprimir.’”

“E o que você falou sobre isso?” perguntou Ulric, o ferreiro.

“Eu disse que ele não conhecia o Governador se ele achava que algum dia ele ia se cansar de oprimir. ‘Nós podemos fazer mais,’ eu disse, ‘se nos abraçarmos forte. A união faz a força,’ eu disse.

“’O forte,’ disse Tell, ‘é mais forte quando fica só.’

“’Então nosso país não deve contar convosco,’ eu disse, ‘quando em desespero ele luta em legítima defesa?’

“’Oh, bem,’ ele disse, ‘dificilmente, talvez. Eu não quero fazer você desistir. O que eu quero dizer é que eu não tenho utilidade como um conspirador ou um conselheiro e esse tipo de coisa. De onde eu venho a força está na ação. Então não me convide para seus encontros nem me faça falar e todo esse tipo de coisas; mas se você quer um homem pra fazer qualquer coisa – bem, aí é onde eu devo entrar, você sabe. Me escreva se precisar de mim – um cartão-postal basta – e você não vai ver William Tell se recusar. Não, senhor.’ E com essas palavras ele nos mostrou a saída.”

“Bem,” disse Jost Weiler, “Eu acho isso encorajador. Tudo o que temos que fazer agora é conspirar. Conspiremos.”

“Sim, conspiremos!” exclamaram todos.

Ulric, o ferreiro, pediu por silêncio na mesa.

“Cavalheiros,” ele disse, “nosso amigo, o Senhor Klaus Von der Flue, vai agora ler um documento sobre ‘Governantes – suas desvantagens e como se livrar deles.’ Silêncio, cavalheiros, por favor. Agora, então, Klaus, companheiro, leia todo o documento.”

E os cidadãos se acalmaram sem mais atraso para fazer uma pequena e séria conspiração

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